Bem-vindos!

Mas entrem com a cabeça aberta para novas percepções, afinal, várias décadas escutando a mesma coisa e não se aprofundando nos textos, de certo modo é apavorante! Leia, releia, pesquise. Novos horizontes se abrirão pra você e com o entendimento, terás a verdadeira liberdade. Ah .. por favor: marque na caixa de diálogo o que você achou do texto e deixe seu comentário, ok? Obrigado pela visita

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Como é fácil aprender alemão

A língua alemã é fácil, costuma dizer o professor logo na primeira aula. Aqui está um exemplo disso:

Peguemos um livro em alemão que trata dos usos e dos costumes dos nativos da Austrália, os hotentotes (em alemão, Hottentoten). Conta o livro que os cangurus (Beltelratten) são capturados e colocados em jaulas (Kotter), cobertas com uma tela (Lattengitter) para protegê-los das interpéries. Se nessa jaula coberta com tela (Lattengitterkotter) estiver um canguru, chamamos ao conjunto de "jaula coberta de tela com canguru". Ou seja, Lattengitterkotterbeltelratten.

Um dia, os hotentotes prenderam um assassino (Attentaeter), acusado de haver matado uma mãe (Mutter) hotentote (Hottentotenmutter), que tem um filho surdo-mudo (Stottertrottel).

A essa mulher chamamos Hottentotenstottertrottelmutter e a seu assassino Hottentotenstottertrottelmutterattentaeter.

No livro, os nativos o capturaram e, sem ter onde colocá-lo, puseram-no numa jaula de canguru (Beltelrattenlattengitterkotter). A seguir, incidentalmente, o preso escapa. Iniciada a busca, vem um guerreiro hotentote gritando:

- Capturamos o assassino (Attentaeter).
- Qual? - pergunta o chefe aborígene.
- O Lattengitterkotterbeltelrattenattentaeter- comenta o guerreiro.
- Como? O assassino que estava na jaula de cangurus coberta de tela? - diz o chefe dos hotentotes.
- Sim, Hottentotenstottertrottelmutterattentaeter, assassino da mãe do garoto surdo-mudo.
- Ah, demônios - diz o chefe. - Você poderia ter dito desde o início que havia capturado o Hottentotenstottertrottelmutterlattengitterkotterbeltelrattenattentaeter (assassino da mãe do garoto surdo e mudo que estava na jaula de cangurus coberta de tela).


Como se vê no exemplo, a língua alemã é muito, muito fácil!!! ;)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mitra ou Jesus?

Alto relevo de Mitra. Notem a auréola divina, também utilizada nas imagens cristãs.




1. Nasceu de uma virgem numa manjedoura no dia 25 de dezembro e foi venerado por humildes pastores;
2. Manteve-se casto a vida toda e operou vários milagres;
3. Celebrou uma Santa Ceia, junto com 12 discípulos, antes de voltar para a casa do Pai;

4. Ascendeu ao Céu de onde prometeu voltar no fim dos tempos para o Juízo Final;

5. Garantia a vida eterna a quem se batizasse.



Estamos falando de Cristo?


Absolutamente não! Estas são apenas algumas das peculiaridades do deus Mitra, cujo culto, começado na Pérsia não menos de 4000 anos atrás, difundiu-se em todo o território do Império Romano chegando a ser uma das religiões mais bem sucedidas (mais popular que o próprio cristianismo) durante quase quatro séculos seguidos.


Como atestam os antigos textos em sânscrito (1400 a.C.), na religião dos antigos Persas, Mitra (ou Mithras da palavra mihr, sol) era considerado um anjo inferior a Ormuzd, o Ser Supremo, mas superior ao deus Sol. Durante o período védico do hinduísmo Mitra (associado a Varuna) era o deus da criação, da ordem universal e da amizade. Os Magos afirmavam que existia uma Trindade formada por Mitra (o sol espiritual, o Sol Dominus Invictus dos Romanos), Ormuzd e Ahriman. Mitra era onissapiente ( que sabe tudo ), inimigo da escuridade e do mal, deus das vitórias militares. Protetor dos justos, agia como mediador entre a humanidade e o Ser Supremo. Ele encarnou-se para viver entre os homens e enfim morreu para que todos fossem salvos. Os fiéis comemoravam a sua ressurreição durante cerimônias onde eram proferidas as palavras:


"Aquele que não irá comer o meu corpo e beber o meu sangue, assim que ele seja em mim e eu nele, não será salvo"


Mitra era tido como Logos (a Palavra) e a purificação mediante o batismo era necessária para obter a vida eterna. Existiam sete níveis de iniciação, cada um coligado a um planeta: Corax (Mercúrio), Nymphus (Vênus), Miles (Marte), Leo (Júpiter), Perses (Lua), Heliodromos (Sol) e, enfim, Padre (Saturno). Assim como entre os Essênios, os iniciados de grau inferior (os aprendizes: Corax e Nymphus) tinham que servir os iniciados de nível superior: os companheiros (Miles e Leo), os mestres (Perses e Heliodromos) e o venerando Padre.


O mitraísmo que entrou no Império Romano era uma mistura de mitraísmo persa, astrologia babilônica e mistérios gregos. Os primeiros contatos entre o mundo romano e mitraístas persas datam do I século antes de Cristo, como atesta uma epígrafe de Antíoco I de Comagene (69-34 a.C.) encontrada na Ásia Menor. Sabe-se, também, que adoradores de Mitra já existiam em Roma na época de Pompeu (67 a.C.) quando, de acordo com o historiador Plutarco, tropas desse triúnviro ( Magistrado romano incumbido, com mais dois colegas, de uma parte da administração pública. ) descobriram os "rituais secretos" de prisioneiros capturados na Cilícia (a terra de São Paulo). Entretanto os restos mais antigos do culto de Mitra no território do Império Romano foram encontrados na cidade de Carnuntum (próxima do Rio Danúbio). Uma legião romana, a XV Apollinaris, foi enviada de Carnuntum à Ásia para combater contra Judeus e Persas e, quando regressou, construiu um templo consagrado a Mitra.



Em Roma surgiram mais de 700 templos dedicados a esse novo deus e mais ainda na cidade de Óstia. Todavia o culto foi oficialmente aceito no Império só a partir do fim do segundo século e alcançou o apogeu de sua popularidade no terceiro século da nossa era. Da mesma forma que os cristãos, entre os fâmulos ( criado, servidor ) de Mitra não tinha discriminação social mas, enquanto os primeiros pertenciam principalmente à pequena burguesia urbana, o mitraísmo era essencialmente difuso entre três classes: os mercantes, os escravos e os militares. Como os soldados eram destacados ao longo das compridas fronteiras imperiais, restos desse antigo culto foram encontrados em abundância onde existiam guarnições e fortes romanos.


Caverna onde os seguidores de Mitra faziam seus cultos religiosos, assim como os cristãos dos primeiros séculos.




O culto de Mitra era uma religião misteriosa e simbólica; as mulheres ficavam excluídas das formas exteriores e regulares da liturgia. Muitos elementos de sua organização lembram os da moderna Maçonaria. Os templos subterrâneos reproduziam o firmamento enquanto a arte mitraísta insistia na representação de corpos celestes (o zodíaco, os planetas, o sol, a lua e as estrelas) como também da serpente, do cão, do corvo, do escorpião ( todas constelações do hemisfério boreal) e da árvore. Sempre foi uma religião privada que jamais recebeu verbas públicas, sendo os templos de Mitra singelos e despidos daquela ostentação que caracterizava as basílicas paleo-cristãs. Se por um lado esse culto, devido sua grande tolerância em relação aos outros credos, nunca foi perseguido, por outro lado nunca gozou da propaganda resultante de persecuções recorrentes.


A história de Mitra principia com o Demiurgo (Ahriman) oprimindo a humanidade. Apiedado, Mitra encarnou-se no dia 25 de dezembro, data que na antiguidade correspondia ao solstício de inverno. Ele nasceu de uma rocha e pregou numa caverna (também Jesus veio ao mundo numa gruta), porém, segundo a mitologia persa, Mitra fora gerado por uma virgem denominada "Mãe de Deus". Durante sua vida terrena Mitra manteve-se casto, pregou a irmandade universal e operou inúmeros milagres. Outrossim, o acontecimento mais marcante foi a luta simbólica de Mitra contra o touro sagrado (ou touro equinocial) que ele derrotou e sacrificou (tauroctonia) em prol da humanidade. Todavia, como nos antigos textos persas o próprio Mitra era o touro, a tauroctonia adquire o dúplice significado de vitória sobre o mundo terreno e de auto-sacrifício da divindade a fim de redimir o gênero humano de seus pecados.


Em época romana o touro podia ser trocado por um carneiro, sendo assim este animal o objeto do sacrifício, conforme à tradição judaica e cristã. O apologista cristão Tertuliano afirma que os sequazes de Mitra eram batizados com borrifos de sangue do touro (ou do carneiro) e, finalmente, purificados com água. No sétimo século a Igreja católica tentou, sem êxito, de suprimir a representação de Cristo como carneiro, justamente por ser esta uma imagem de origem pagã.


São Justino Mártir atesta que existia uma eucaristia de Mitra onde os fiéis compartilhavam pequenos pães redondos e água consagrada simbolizando, respectivamente, a carne e o sangue do deus encarnado. Este ritual, que ocorria aos domingos (dia da semana consagrado ao Sol), era chamado Myazda e correspondia exatamente à missa dos cristãos. Mitra não morria fisicamente, mas apenas simbolicamente e, como divindade solar, ressuscitava todo ano. Cumprida a missão terrena, ele jantava pela derradeira vez com seus discípulos e subia ao Céu. Seus adeptos tinham que jejuar freqüentemente e, após terem recebido um marco na testa (no nível Miles, soldados), passavam a ser chamados "Soldados de Mitra".


No início do IV século o imperador Constantino apoiou-se às religiões emergentes: o cristianismo e os cultos solares, ou seja o de Apolo (popular entre os Celtas) e o de Mitra, extremamente difuso na parte Ocidental do Império onde, ao contrário, os cristãos ainda eram minora. De forma alguma Constantino pode ser considerado um soberano cristão pois, como os demais imperadores, nunca renunciou ao título de pontifex maximus. Ademais, ele privilegiou os pagãos nos cargos administrativos e a casa da moeda romana continuou a cunhar moedas mostrando símbolos pagãos. O mitraísmo sumiu oficialmente em 377 d.C., data em que o imperador cristão Teodósio proibiu todas as religiões diferentes do cristianismo. Pequenos grupos de adeptos continuaram secretamente a prática do culto até o V século quando os bispos desencadearam ásperas perseguições contra os cultos solares.


Surpreendentemente a própria Igreija cristã incorporou boa parte das práticas mitraístas como a liturgia do batismo, da crisma, da eucaristia, da páscoa, e a utilização do incenso, das velas, dos sinos, etc. Até as vestimentas usadas pelo clero católico eram extremamente parecidas com as dos sacerdotes de Mitra, como a tiara e a mitra, barretes usados pelos antigos persas. Se não tivesse sido por uma extravagância do destino, observam divertidos os escritores Knight e Lomas, as modernas famílias devotas iriam para a missa dominical tendo os vidros de seus carros enfeitados por adesivos com a escrita "Mitra te ama".


A expressão cristã "Príncipe das Trevas" já fora usada tanto pelos Essênios quanto pelos adoradores de Mitra. Santo Agostino chegou a admitir algum tipo de fusão entre as duas religiões quando reconheceu que os sacerdotes de Mitra adoravam o mesmo Deus em que ele acreditava. Em outras palavras, para ele Mitra e Jesus eram a mesma pessoa! Os cristãos sempre afirmaram que os adeptos de Mitra copiaram seus ritos, mas já vimos que, na verdade, esse culto solar chegou em Roma pelo menos um século antes dos primeiros apóstolos. Ademais, a imagem da tauroctonia é bem mais antiga que Cristo pois o patrimônio figurativo da glíptica (Arte de gravura em pedras preciosas.)do Império de Akkad (2370-2120 a.C.) documenta cenas de luta entre um deus solar e um touro. No milênio sucessivo, durante o reinado de Shuppiluliuma (cerca 1500 a.C.), num tratado com um soberano hitita é invocada a proteção de duas divindades solares: Mitra e Varuna.


Com efeito, somente entre os anos 4000-2000 a.C. o sol nascia, aos equinócios ( Ponto da órbita da Terra em que se registra uma igual duração do dia e da noite, o que sucede nos dias 21 de março e 23 de setembro. ), na constelação do Touro e só naquela época as constelações do Cão Menor, da Hidra (a serpente), do Corvo e do Escorpião se encontravam no Equador celeste. Ocasionalmente um leão e uma taça apareciam na tauroctonia: simbolicamente representavam as constelações do Leão e do Aquário que só se achavam em conjunção com o Sol durante os solstícios na Idade do Touro. Os antigos astrônomos da Babilónia fizeram precisas observações astronômicas chegando a descobrir que, ano após ano, o sol não despontava sempre no mesmo canto mas o plano equinocial se deslocava lentamente com a "velocidade" de uma constelação em cada 2160 anos. Conseqüentemente o plano equinocial percorre todo o zodíaco em 25.900 anos, um movimento cíclico conhecido como precessão dos equinócios.


Nesse sentido a cena de Mitra (representado pela constelação de Perseu) que mata o touro pode ser interpretada como a rotação da abóbada celeste em direção da constelação de Áries, sucessiva à constelação do Touro. Mitra, o sol espiritual que se encontra além da esfera das estrelas fixas, seria portanto a força cósmica capaz de governar o ciclo das estações: a eterna seqüência de outono-primavera, de luz - obscuridão, na espera da vitória final da Luz sobre as trevas, da Vida sobre a morte.



Bibliografia


Cumont F. "The Mysteries of Mithra", Dover Pubns, ISBN: 0486203239, (2001).


Rittatore Vonwiller F. et al. " Preistoria e Vicino Oriente Antico", UTET, Torino (1969).


Ulansey D. "The Origins of the Mithraic Mysteries: Cosmology and Salvation in the Ancient World", Oxford University Press, Oxford (1991).


Brown P. "The World of the Late Antiquity", Thames & Hudson Ltd., London (1971).


Levi M.A. "L' Impero Romano", UTET, Torino (1971)


Lavigny S. "Decadenza dell' Impero Pagano", Ferni Editore, Ginevra (1973).


Knight C. & Lomas R. "The Hiram Key", ISBN: 8804421436, (1996).


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

VOTE NO HUGO!

Hoje de manhã alguém bateu à minha porta. Era um casal bem vestido e arrumado. O homem falou primeiro, e disse

João: Olá! Eu sou João, e esta é a Maria.

Maria: Olá! Gostaríamos de convidá-lo a votar no Hugo connosco.

Eu: Como assim? O que é isso? Quem é Hugo, e porque é que vocês querem que eu vote nele? Nem é dia de eleição hoje.

João: Se votar no Hugo, ele dar-lhe-á um milhão de dólares, e se não, ele espanca-o.

Eu: Mas o que é isso? Extorsão da máfia?

João: Hugo é um multibilionário filantropo. Hugo construiu esta cidade. A cidade é dele. Ele pode fazer o que ele quiser, e ele quer dar-lhe um milhão de dólares, mas isso só é possível se você votar nele.

Eu: Mas isso não faz o menor sentido. Se o Hugo construiu a cidade, é dono dela e pode fazer o que quiser, então por que precisa ser eleito? E por que ele...

Maria: Quem é você para questionar o presente do Hugo? Você não quer o milhão de dólares? Não vale a pena por votar nele uma vez só?

Eu: Bom, talvez, se mesmo a sério, mas...

João: Então venha conosco votar no Hugo.

Eu: Vocês já votaram no Hugo?

Maria: Ah, claro, e...

Eu: E vocês já receberam o milhão de dólares?

João: Bom, na verdade não. Você só recebe o dinheiro depois de sair da cidade.

Eu: Então porque é que vocês não saem?

Maria: Você só sai quando o Hugo deixar, ou você não leva o dinheiro, e ele espanca-o.

Eu: Vocês conhecem alguém que tenha votado no Hugo, saído da cidade e ganho o dinheiro?

João: Minha mãe votou no Hugo por anos. Ela saiu da cidade ano passado, e tenho certeza de que ela ganhou o dinheiro.

Eu: Você não falou com ela depois disso?

João: Claro que não, o Hugo não deixa.

Eu: Então porque é que acha que ele vai dar-lhe o dinheiro se nunca falou com alguém que tivesse conseguido o dinheiro?

Maria: Bom, ele dá-lhe um pouco antes de você ir embora. Pode ser um aumento de salário, pode ser um pequeno prémio de lotaria, pode ser que você ache uma nota de cinquenta na rua.

Eu: E o que tem isso a ver com o Hugo?

João: O Hugo tem uns «contatos».

Eu: Sinto muito, mas isso parece-me muito estranho...

João: Mas é um milhão de dólares, você vai arriscar? E lembre-se, se você não votar no Hugo, ele espanca-o.

Eu: Talvez se eu pudesse ver o Hugo, falar com ele, ajustar os pormenores diretamente com ele...

Maria: Ninguém vê o Hugo, ninguém fala com o Hugo.

Eu: Então como é que vocês votam nele?

João: Às vezes nós fechamos os olhos e votamos, pensando no Hugo. Às vezes votamos no Carlos, e ele conta ao Hugo.

Eu: Quem é o Carlos?

Maria: Um amigo nosso. Foi ele que nos ensinou a votar no Hugo. A gente só precisou de o levar a jantar algumas vezes.

Eu: E vocês simplesmente acreditaram no que ele disse, quando ele contou que existia um Hugo, e que o Hugo queria que vocês votassem nele, e que o Hugo daria uma recompensa?

João: Claro que não! Carlos trouxe uma carta que o Hugo lhe mandou anos atrás, explicando tudo. Tenho uma cópia aqui, veja você mesmo. João entregou-me uma fotocópia de uma carta com o cabeçalho «Do punho de Carlos». Havia onze pontos ali:

1. Vote no Hugo e ele dar-lhe-á um milhão de dólares quando você sair da cidade.
2. Beba álcool com moderação.
3. Espanque quem não for como você.
4. Coma bem.
5. O próprio Hugo ditou esta lista.
6. A lua é feita de queijo verde.
7. Tudo que o Hugo diz está certo.
8. Lave as mãos depois de ir à casa de banho.
9. Não beba.
10. Só coma salsicha no pão, e sem condimentos.
11. Vote no Hugo, ou ele espanca-o.

Eu: Parece que isso foi escrito no bloco do Carlos.

Maria: Hugo não tinha papel.

Eu: Tenho um palpite que se fôssemos conferir, descobriríamos que essa letra é do Carlos.

João: Claro que é, o Hugo ditou.

Eu: Pensei que vocês tinham dito que ninguém vê o Hugo.

Maria: Agora não, mas tempos atrás ele falava com algumas pessoas.

Eu: Pensei que vocês tinham dito que ele era um filantropo. Como é que um filantropo bate nas pessoas só porque elas são diferentes?

Maria: É o desejo de Hugo, e o Hugo está sempre certo.

Eu: Como sabe?

Maria: O item 7 diz: «Tudo que o Hugo diz está certo». Para mim isso é suficiente.

Eu: Talvez o seu amigo Carlos tenha inventado isso tudo.

João: De jeito nenhum! O item 5 diz: «O próprio Hugo ditou esta carta». Além disso, o item 2 diz «beba álcool com moderação», o item 4 diz «coma bem», e o item 8 diz «lave as mãos depois de ir à casa de banho». Toda a gente sabe que isso está certo, então o resto deve ser verdade também.

Eu: Mas o item 9 diz «não beba», o que não bate com o item 2. E o item 6 diz que «a Lua é feita de queijo verde», o que está simplesmente errado.

João: Não há contradição entre 9 e 2, 9 só esclarece 2. E quanto ao 6, você nunca esteve na Lua, então não pode ter certeza.

Eu: A ciência já estabeleceu muito bem que a Lua é feita de rochas...

Maria: Mas eles não sabem se as rochas vieram da Terra ou do espaço, então poderiam muito bem ser queijo verde.

Eu: Não sou um perito, mas acho que a ideia é que dois ou mais corpos de bastante massa podem ter colidido durante a formação do sistema solar para criar o sistema Terra-Lua. Mas não saber exatamente como a Lua foi formada não tem nada a ver com ela ser feita de queijo.

João: Ah! Você acabou de admitir que os cientistas não podem ter certeza, mas nós sabemos que o Hugo está sempre certo!

Eu: Sabemos?

Maria: Claro, o item 5 diz isso.

Eu: Você disse que o Hugo está sempre certo porque a lista diz, e a lista está certa porque o Hugo ditou, e sabemos que o Hugo ditou porque a lista diz. Isso é lógica circular, é a mesma coisa que dizer que «o Hugo está certo porque ele diz que está certo».

João: AGORA você entende! É tão bom ver alguém entender a forma de pensar do Hugo!

Eu: Mas... ah, deixem estar... E que história é essa com as salsichas?

João (enquanto Maria enrubesce): É um esclarecimento do item 4. Salsicha, só no pão, sem condimentos. É a maneira do Hugo. Qualquer coisa diferente disso é errado.

Eu: Mas então pode comer hamburguer sem pão? E bratwürst?

João: Espere aí, espere aí! Não vamos deixar as coisas mais complicadas do que elas são. É melhor deixar esses pormenores para os peritos profissionais no Hugo e suas regras.

Eu: E se não tiver pão?

João: Sem pão, nada de salsicha. Salsicha sem pão é errado.

Eu: Sem molho? Sem mostarda?

João (Gritando, enquanto Maria parece chocada): Não precisa falar assim! Condimentos de todos os tipos são errados!

Eu: Então uma pilha enorme de repolho azedo com umas salsichas picadas em cima, nem pensar?

Maria (enfiando os dedos nas orelhas): Eu não estou escutando!! La la la, la la, la la la.

João: Mas que nojento! Só um pervertido comeria isso...

Eu: Mas é bom! Eu como sempre!!

João (amparando Maria, que desmaia): Se eu soubesse que você era um desses, não teria desperdiçado meu tempo. Quando o Hugo o espancar, eu vou estar lá, contando meu dinheiro e rindo. Eu vou votar nele por você, seu comedor-de-salsicha-cortada-com-repolho! E assim João arrastou Maria para o carro, e foram embora.