No afã de comprovar a veracidade de Cristo, os cristãos se valeram de vários métodos, entre eles, a adulteração de escritos antigos. Uma destas adulterações encontra-se no livro "A História dos Hebreus", que é uma compilação de vários livros de Josefo ("A Guerra Judaica", publicado em 79, "Antiguidades Judaicas", publicado em 94 - onde se encontra a tal passagem do testemunho Flaviano, "Contra Ápion" e "Autobiografia").
A passagem do livro a se discutir é essa, capítulo 772:
“Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia devemos considera-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Ele era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome”
Josefo nasceu em 37 ou 38 da era atual. Ele mesmo informa em sua Autobiografia: "eu tenho o meu nascimento no primeiro ano do reinado do imperador Caio Cesar". Sem mais delongas, vamos aos porquês de Josefo não ter escrito este texto:
1 - JOSEFO ERA SADUCEU:
Saduceus eram um grupo de sacerdotes judaicos, avessos aos fariseus, ricos, geralmente proprietários de terras, controlavam o Templo, eram o partido majoritário no sinédrio, indicavam os sacerdotes do templo e também o sumo-sacerdote. Eram extremamente conservadores e não aceitavam nada além do Pentateuco. Também não acreditavam na imortalidade da alma, na ressurreição, em anjos ou demônios. Só isso já mostra que Josefo, mesmo historiador, não se deteria a tal comentário.
2 - JOSEFO NÃO TEVE CONTATO COM O CRISTIANISMO:
Em sua "Autobiografia", Josefo, com suas próprias palavras, prova que não teve contato com o cristianismo e muito menos o conhecia. Vejam:
“Quando fiz treze anos desejei aprender as diversas opiniões dos fariseus, dos saduceus e dos essênios, três seitas que existem entre nós, a fim de, conhecendo-as, eu pudesse adotar a que melhor me parecesse. Assim, estudei-as todas e experimentei-as com muitas dificuldades e muita austeridade”
Só esta passagem já coloca por água abaixo o texto em discussão. Josefo escreveu sua Auto-biografia após o ano 95, portanto, já com 58 ou 59 anos de idade e claramente ele afirma TRÊS SEITAS QUE EXISTEM ENTRE NÓS, sem deixar dúvida alguma que nunca viu um cristão na sua frente.
3 - OS TEXTOS ANTERIOR E POSTERIOR SE COMPLETAM:
O texto que antecede e o que procede o texto em discussão se complementam, mostrando claramente a interpolação no mesmo. Interpolação é quando, numa obra, introduz-se palavras, passagens e capítulos inteiros que não fazem parte dela, com o propósito de esclarecê-la. No caso em tela, serviu para justificar a existência do inexistente Jesus, nos textos de Josefo. A passagem 773 eu vou colocar somente o início pois é extensa:
771 - Em seguida, Pilatos tentou retirar dinheiro do tesouro sagrado para
fazer vir a Jerusalém, pelos aquedutos, a água cujas nascentes distavam uns
duzentos estádios. O povo ficou de tal modo revoltado que veio em grupos
numerosos queixar-se e rogar-lhe que não continuasse aquele projeto. E, como
acontece ordinariamente no meio de uma população exaltada, alguns chegaram
de dizer-lhe palavras injuriosas. Ele ordenou então aos soldados que
escondessem cacetes debaixo da túnica e rodeassem a multidão. Quando
recomeçaram as injúrias, sinalizou aos soldados para que executassem o que
havia determinado. Eles não somente obedeceram, como fizeram mais do que
ele desejava, pois espancaram tanto os sediciosos quanto os indiferentes. Os
judeus não estavam armados, e por isso muitos morreram e vários foram
feridos. E a sedição terminou.
773. Por esse mesmo tempo, aconteceu uma grande perturbação na
Judéia e um horrível escândalo em Roma, durante os sacrifícios de ísis.
Começarei a falar deste último e depois passarei ao que se refere aos judeus.
Havia em Roma uma jovem senhora, de nome Paulina, que não era menos
ilustre por sua virtude que por seu nascimento e era tão bela quanto rica. Havia
desposado Saturnino, a quem não poderíamos louvar suficientemente,
bastando dizer que era digno de ser o marido de semelhante mulher. Décio
Mundo, jovem que ocupava uma posição muito elevada na ordem dos
cavaleiros, concebeu por ela o amor mais ardente que se possa imaginar. E,
como ela era de tal virtude que não se deixava conquistar por presentes, a
impossibilidade de obter o seu desejo aumentou-lhe ainda mais a paixão. Ele
chegou a oferecer-lhe duzentas mil dracmas por uma noite, porém ela rejeitou a
proposta com desprezo.
Vemos que Josefo fala dos eventos perturbatórios que acontecem em Jerusalém e que claramente o capítulo que fala sobre JC fica à toa, sem sentido algum.
Os cristãos, ávidos por achar alguma comprovação do seu messias FAKE, interpolaram o texto descaradamente para "achar" uma testemunha válida. Diante do exposto, vimos que foi em vão. As próprias palavras de Josefo dão conta de contradizer esta invenção cristã.
