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domingo, 8 de agosto de 2010

Falar em Línguas???





Nos dias de hoje, existem muitas formas de impressionar os fiéis. Uma delas é o tal Falar em Línguas. Uma vez, fui a um templo evangélico e presenciei o pastor falando coisas inteligíveis e todos os crentes ficavam maravilhados pois acreditavam que era um dom do espírito santo. Pouco tempo depois, todos os fiéis estavam grunhindo e gritando coisas inteligíveis, acreditando que estavam recebendo o dom divino. Histeria coletiva?

O "Falar em Línguas" é tão propagado que existe até um livro (evangélico, já que entre os cristãos católicos não existe esse procedimento divino) que fala sobre o assunto. Na contra capa deste livro diz:

Uma das mais poderosas ferramentas de edificação que Deus deu as seu povo é a linguagem sobrenatural de Oração. Quando descobrimos o investimento divino que há no falar em línguas e fizermos dele uma prática diária, seremos levados a uma nova dimensão de vida no Espirito. Nada do que Deus nos dá é em vão. contudo, a maioria dos cristãos ignora o valor da linguagem de oração do Espirito Santo. Neste Livro você pederá compreender mais acerca das verdades que envolvem esta preciosa manifestção espiritual.


Gostei do "linguagem sobrenatural" rsss. Mas vamos ver, utilizando o próprio NT, o que seria esse tal "Falar em Línguas":


Em Atos dos Apóstolos, livro atribuído a Lucas e possivelmente escrito por volta do ano 80, capítulo 2, os apóstolos estão todos reunidos num mesmo lugar. Era época de Pentecostes e haviam judeus de "várias nações que existem debaixo do céu" em Jerusalém.

Subitamente, do nada e sem motivo nenhum, ouviu-se um ruido vindo do céu e "línguas de fogo" se repartiram e pousaram sobre os apóstolos. Então, temos o seguinte:

4.Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

E o que seria esse "Falar em Línguas"? O versículo 6 explica muito bem o que é:

6. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua.

Ou seja: cada pessoa que falasse uma língua diferente do aramaico, entendia o que eles estavam falando em sua própria língua. Por exemplo, quem era romano, escutava em latim. Prova está nos versículos abaixo:

8. Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9. Partos, medos, elamitas; os que habitam a Macedônia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, 10. a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, 11.judeus ou prosélitos, cretenses e árabes; ouvimo-los publicar em nossas línguas as maravilhas de Deus!

O engraçado é que, mais adiante, no versículo 6 do capítulo 19, o "Falar em Línguas" já não tinha mais o mesmo entendimento e, portanto, nem o mesmo propósito que era com que os estrangeiros que não falavam o aramaico pudessem absorver os ensinamentos dos apóstolos. Paulo estava em Éfeso e encontrou alguns discípulos batizados por João. Como na visão de Paulo eles não tinham recebido o batismo com o dom do espírito santo, ele os batizou de novo e após o novo batismo:

6.E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas e profetizavam.

Ora, como saberiam que eram línguas estranhas? Obviamente porque elas não eram inteligíveis. Paulo em outros momentos também falou em línguas mas já com uma explicação absurda de que só entenderia o que estava sendo falado se essa pessoa "tivesse o dom do espírito santo", como vemos em I Coríntios 12:

10. a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas.

No mesmo capítulo, mais adiante, o próprio Paulo, vendo que não adiantava o tal dom, acabou colocando o "falador de línguas" em um patamar bem abaixo:

28. Na Igreja, Deus constituiu primeiramente os apóstolos, em segundo lugar os profetas, em terceiro lugar os doutores, depois os que têm o dom dos milagres, o dom de curar, de socorrer, de governar, de falar diversas línguas.

O que teria acontecido pra que ele se manifestasse dessa maneira? A resposta é óbvia e os textos retirados do capítulo 14 de I Coríntios, mostram claramente que ninguém entendia as tais línguas estranhas:

6. Suponhamos, irmãos, que eu fosse ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitaria, se minha palavra não vos desse revelação, nem ciência, nem profecia ou doutrina?

9. Assim também vós: se vossa língua só profere palavras ininteligíveis, como se compreenderá o que dizeis? Sereis como quem fala ao vento.

Paulo chega a fazer uma comparação absurda retirando do texto de Isaías algo que poderia justificar o que ele estava dizendo:

21. Na lei está escrito: Será por gente de língua estrangeira e por lábios estrangeiros que falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor (Is 28,11s).

Só que Isaías estava se referindo, na profecia, sobre o castigo que seria imposto por Deus aos hebreus, por eles não o terem respeitado. Este castigo seria o cativeiro babilônico, portanto, a "gente de língua estrangeira", seriam os soldados babilônicos, tachados de bárbaros pelo profeta. Somente assim, os hebreus "escutariam e entenderiam os recados divinos", ou seja, o que Paulo compara, não tem comparação :

Is 28.11. Pois bem, será por gente que balbucia, será numa língua bárbara que o Senhor falará a esse povo!

E aí, o que era no início para ser um entendimento aos judeus estrangeiros que não falavam a língua aramaica, passou a ser um sinal apenas para os infiéis, o que não adiantaria muito, afinal, quem falasse em línguas seria tachado de louco. Para que isso não acontecesse, Paulo definiu como prioridade o dom da profecia:

23. Se, pois, numa assembléia da igreja inteira todos falarem em línguas, e se entrarem homens simples ou infiéis, não dirão que estais loucos?

24. Se, porém, todos profetizarem, e entrar ali um infiel ou um homem simples, por todos é convencido, por todos é julgado;

Paulo demonstra que o "Falar em Línguas" não serve para nada, modificando o acontecimento inicial que era o entendimento por todos os que estavam presentes. Nesse novo momento, era necessário um intérprete para as tais línguas estranhas:

27. Se há quem fala em línguas, não falem senão dois ou três, quando muito, e cada um por sua vez, e haja alguém que interprete. 28. Se não houver intérprete, fiquem calados na reunião, e falem consigo mesmos e com Deus.

O que entendemos por isso tudo? Ora, os pastores em suas igrejas hoje em dia, convencem que aquela gritaria que ninguém entende é "Falar em Línguas" e que ela é um dom do espírito santo. Um prato cheio para que os fiéis acreditem que estão iluminados com o espírito santo, sendo que estão sendo enganados e tendo suas mentes sendo pervertidas por algo que não existe. E se existisse, tudo o que era falado deveria ser entendido na própria língua de quem estivesse escutando, conforme era a proposta inicial.

Parece estranho eu citar isso, afinal sou completamente contra qualquer tipo de discriminação, mas Joseph Goebbels, ministro das comunicações de Hitler, cunhou uma frase que explica muito bem como é fácil enganar as pessoas:

Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade!

2 comentários:

  1. Interessante o seu post. Engraçado como a gente passa batido pelos textos do NT. Parabéns!

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  2. Olá Marco,
    Tu escrevestes:

    " já que entre os cristãos católicos não existe esse procedimento divino)"

    Os católicos carismáticos falam em línguas da mesma maneira que falam os crentes pentecostais.
    Muito boa a tua abordagem, em outras palavras o falar em línguas era natural e isso me faz refletir sobre o assunto.
    Por que o pombo santo teria a necessidade de distribuir línguas se a igreja nessa época ainda não tinha sido aberta para os gentios?
    E qual o judeu que não entenderia a mensagem se ela fosse dita em hebraico, aramaico, latim ou grego que eram línguas francas na época?
    Que não fosse em grego, ou em grego, mas o hebraico era franqueado para todos os judeus, logo esse falar em línguas era totalmente desnecessário.

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