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Mas entrem com a cabeça aberta para novas percepções, afinal, várias décadas escutando a mesma coisa e não se aprofundando nos textos, de certo modo é apavorante! Leia, releia, pesquise. Novos horizontes se abrirão pra você e com o entendimento, terás a verdadeira liberdade. Ah .. por favor: marque na caixa de diálogo o que você achou do texto e deixe seu comentário, ok? Obrigado pela visita

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dízimo: a mentira contada há 2.000 anos


A Galinha dos Ovos de ouro da Igreja




dizimo
por Alexandre Barbado

[Alexandre C. Freitas Barbado foi missionário no Peru, Amazonas, Nordeste e Belo Horizonte. É fundador e coordenador do Expresso da Salvação, entidade criada para atender os carentes]

INTRODUÇÃO

Há um ditado antigo que diz: uma mentira contada várias vezes acaba se tornando verdade. Imagine uma mentira contada por tanta gente, principalmente por líderes religiosos, e por quase vinte séculos.

Sofri por algum tempo ao achar que estava sozinho com este pensamento. Nunca concordei com a forma como ofertas na igreja são tiradas (este sim é um termo apropriado) das pessoas e como estas ofertas são gastas (analise por conta própria como o dinheiro arrecadado em sua igreja é utilizado). Mas logo percebi que existe um grupo “remanescente” que não se dobrou a este Baal, o dinheiro, que persiste em permanecer no meio cristão.

Não bastasse o saque feito no meio do povo de Deus – pior, realizado no nome do próprio Deus – ainda há “pastores” que mais parecem piratas, ávidos por riquezas alheias, não medindo esforços para transformar a casa de Deus em um shopping center, onde se possa adquirir qualquer bênção com o valor de uma oferta.

Deus é transformado em um gerente de banco, que paga os melhores juros na única instituição financeira ”igreja” que devolve o dinheiro aplicado até cem vezes mais. Sem dizer na quantidade enorme de badulaques e amuletos usados e vendidos para não deixar nenhum chumaço de lã nas ovelhas.

Sei que muita gente vai concordar com o que está escrito aqui, mas sei que haverá muita gente ofendida, principalmente os que vivem ou sobrevivem à custa das ovelhas. Peço que ajam como Bereanos e analisem, à luz das Escrituras Sagradas (Bíblia), se o que será exposto não é a mais pura verdade. Quem sabe assim aqueles que amarem realmente a verdade não ficarão livres deste fardo e libertarão outros?

Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8, 32).

CAIM E ABEL

Vamos começar do princípio e analisar as ofertas de Abel e Caim. Muitos ensinam que Caim foi rejeitado porque sua oferta não era adequada ou não tão boa quanto à oferta de Abel, mas prestem atenção no texto:

Mas para Caim e para a sua oferta não atentou o Senhor. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante (Gênesis 4, 5).

O problema não era a oferta de Caim, mas ele próprio, que era mau. Deus o orienta para que seja aceito:

E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar (Gênesis 4, 6-7).

Por isso Jesus manda-nos, primeiro, acertar nosso coração para que, depois, a nossa oferta seja aceita.

Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta (Mateus 5, 23-24).

Quanta gente acha que, por entregar uma oferta ou dízimo, está quitando uma dívida com o Senhor? A realidade é bem diferente, pois a única dívida que Deus cobra de nos é o perdão.

Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas (Mateus 6, 14-15).

Preste atenção, pois isto é importante: não seremos condenados pela nossa dívida, pois ela já foi paga na cruz do calvário.

Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz (Colossenses 2, 14).

Seremos condenados pela dívida do outro, a quem não perdoamos.

ABRAÃO

Outra passagem amplamente usada para defender o dízimo está em Gênesis, capítulo 14, na qual Abraão dá o dízimo a Melquisedeque.

É importante, porém, observar que:

1 – Abraão deu o dízimo voluntariamente, não por imposição, norma religiosa ou qualquer outro tipo de voto ou promessa. Melquisedeque não pediu nem solicitou nada a Abraão, que entregou a oferta de bom grado (verso 20).

2 – Abraão entregou o dízimo após a vitória, não antes. O processo é totalmente inverso àquele que ensinam certos pastores, segundo o qual a entrega do dízimo é que garante a vitória (verso 17).

3 – Abraão não entregou o dízimo daquilo que era dele, mas dos despojos da guerra (verso 20).

4 – Abraão devolveu os outros noventa por cento aos seus verdadeiros donos (versos 21-24). Não como o dízimo ensinado hoje nas igrejas, em que você entrega dez por cento e fica com os noventa por cento restante.

5 – Em mais nenhum lugar na Bíblia vemos Abraão entregando o dízimo novamente, então quem pode afirmar que esta era uma prática constante?

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem o dízimo, alegando que ele é válido, é o de que ele foi instituído antes da Lei Mosaica. No entanto, lembre-se, a circuncisão também foi instituída antes da Lei, e ninguém ensina isto nas igrejas!

Esta é a história de um homem (Abraão) que ama e crê em um Deus ao qual dá ofertas voluntárias. Sem imposição, sem coação, sem ameaças de maldição e sem superstições.

Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abraão numa visão, dizendo: Não temas, Abraão, Eu sou teu escudo; o teu galardão será muito grande (Gênesis 15:1)

JACÓ

Gênesis 28, 20-22:

E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor me será por Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.

Jacó, na passagem acima, está fazendo um voto em resposta a uma visitação que recebeu de Deus, em sonho. Neste sonho, Jacó viu uma escada alcançando o céu, com anjos subindo e descendo por ela. Deus estava em pé, acima da escada, e disse a Jacó:

Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; e eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado (Gênesis 28, 13-15).

Em resposta, Jacó fez o voto de que daria um dízimo a Deus se Ele guardasse Sua promessa. Novamente, em semelhança ao exemplo de Abraão, este dízimo foi voluntário. Se Jacó de fato começou a dizimar depois que Deus cumpriu a promessa, a Bíblia não o registra.

1 – Outra vez chamo a atenção para o fato de que primeiro foi Deus quem fez a promessa (sem pedir nada) e só depois Jacó fez o voto de dizimar (verso 20).

2 – Não havia o dízimo presumido, como ensinam certas igrejas, em que você entrega a quantia que gostaria de ganhar. Que absurdo!

Preste atenção:

E de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo (Gênesis 28, 22).

Estes dois são os únicos exemplos de dízimo encontrados no Velho Testamento antes da Lei ser dada: os de Abraão e Jacó. Ambos são exemplos de algo voluntário, e nenhum deles foi pedido por Deus. Em nenhum dos personagens vemos o dízimo como uma prática habitual, constante. Abraão deu o dízimo – retirado dos despojos de uma vitória militar – uma única vez em sua vida a um sacerdote de Deus. Se as evidências para obrigar crentes sob o Novo Pacto a dizimarem se apóiam apenas nestas duas passagens de Gênesis, parece-me que se trata de um fundamento muitíssimo inseguro!

DÍZIMO NA LEI MOSAICA

O que ensina a Bíblia sobre o dízimo sob a Lei Mosaica? Nesta seção examinaremos todas as passagens significantes que descrevam o dízimo sob a Lei, nas Escrituras.

Levítico 27, 30-33:

Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor. Porém, se alguém das suas dízimas resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. No tocante a todas as dízimas do gado e do rebanho, tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor. Não se investigará entre o bom e o mau, nem o trocará; mas, se de alguma maneira o trocar, tanto um como o outro será santo; não serão resgatados.

Note que, na passagem acima, o dízimo é descrito como parte do produto da terra, da semente do campo, do fruto das árvores, do gado e do rebanho. O dízimo não era dinheiro. Em local algum das Escrituras você encontrará uma passagem que diga que oferecer o dízimo era dar dinheiro a Deus.

Ademais, o dízimo era provavelmente dado em uma base anual. A cada ano, as pessoas levavam aos sacerdotes a décima parte de sua colheita e do aumento da manada e do rebanho. Podemos imediatamente ver que a contribuição semanal ou mensal de dez por cento de nossa renda monetária difere muito da prática do dízimo que encontramos na Bíblia.

Alguns podem alegar que naquele tempo não havia dinheiro ou moeda de troca e que, por isso, pagava-se o dízimo em animais e produtos do campo. Mas, vejamos: algumas taxas para o templo só eram aceitas em forma de dinheiro (Êxodo 30,14-16 e Êxodo 38, 24-31). O dinheiro também era utilizado para comprar sepulturas (Gênesis 23, 15-16), bois para sacrifícios (II Samuel 24, 24) e imóveis (Jeremias 32, 9-11), para pagar tributos vassalos (II Reis 23, 33-35), pagar salários (II Reis 22, 4-7) e fazer câmbios (Marcos 11, 15-17). O próprio Jesus foi vendido por dinheiro.

O dinheiro já existia desde os tempos de Abraão. Salário, comércio, negócios sempre existiram. Nos tempos antigos havia variadas profissões e ocupações, assim como hoje. Se o dízimo tivesse sido estabelecido sob a forma de dinheiro, ninguém teria dificuldade de adorar a Deus. No entanto, não foi o que Ele quis. Dízimo, na Bíblia, é sinônimo de alimento.

Israel era uma teocracia e os sacerdotes levitas atuavam como um governo civil. O dízimo Levítico (Levítico 27, 30-33) era uma espécie de imposto de renda; tratava-se de um segundo dízimo anual requerido por Deus para suprir uma festa nacional (Deuteronômio 14, 22-29). Taxas menores também foram impostas ao povo pela lei (Levítico 19, 9-10; Êxodo 23, 10-11) e, assim, a doação total requerida dos israelitas não era dez por cento, mas mais do que vinte por cento. Todo esse dinheiro era usado para colocar a nação em funcionamento.

Doações à parte eram puramente voluntárias (Êxodo 25, 2 e I Crônicas 29, 9). Cada pessoa dava conforme o que estava em seu coração; nenhuma percentagem ou quantia era especificada.

OFERTAS PARA O TABERNÁCULO

Êxodo 25, 1-8:

Então falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, que me tragam uma oferta alçada; de todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta alçada. E esta é a oferta alçada que recebereis deles: ouro, e prata, e cobre, e azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pêlos de cabras, e peles de carneiros tintas de vermelho, e peles de texugos, e madeira de acácia, azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção, e especiarias para o incenso, pedras de ônix, e pedras de engaste para o éfode e para o peitoral. E me farão um santuário, e habitarei no meio deles.

Êxodo 35, 21:

E veio todo o homem, a quem o seu coração moveu, e todo aquele cujo espírito voluntariamente o excitou, e trouxeram a oferta alçadaao Senhor para a obra da tenda da congregação, e para todo o seu serviço, e para as vestes santas.

Havia também uma oferta alçada para os sacerdotes:

Êxodo 29, 26-27:

E tomarás o peito do carneiro das consagrações, que é de Arão, e com movimento oferecerás perante o Senhor; e isto será a tua porção.

E santificarás o peito da oferta de movimento e o ombro da oferta alçada, que foi movido e alçado do carneiro das consagrações, que for de Arão e de seus filhos.

Oferta alçada era uma oferta específica para algo específico, no caso das passagens acima, para a construção do tabernáculo. Toda oferta recolhida para o tabernáculo e seu serviço era específica, havia uma direção clara e objetiva, e o mais importante, uma orientação dada pelo próprio Deus.

Êxodo 25:1

Então falou o Senhor a Moisés, dizendo:

Êxodo 36, 4-7:

E vieram todos os sábios, que faziam toda a obra do santuário, cada um da obra que fazia, e falaram a Moisés, dizendo: O povo traz muito mais do que basta para o serviço da obra que o Senhor ordenou se fizesse. Então mandou Moisés que proclamassem por todo o arraial, dizendo: Nenhum homem, nem mulher, faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais, porque tinham material bastante para toda a obra que havia de fazer-se, e ainda sobejava.

Quem dera os cristãos de hoje também tivessem a liberalidade que tinham aqueles que serviam o Senhor no passado, não haveria necessidade de tantos apelos, e até ameaças, em nome de Deus.

O DÍZIMO PARA OS LEVITAS

Números 18, 21-24:

E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação. E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. Mas os levitas executarão o ministério da tenda da congregação, e eles levarão sobre si a sua iniquidade; pelas vossas gerações estatuto perpétuo será; e no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão, porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao Senhor em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.

Note nesse texto que o dízimo foi planejado para ser o sustento dos levitas. Uma vez que eles não tinham nenhuma herança (terra para atividade agropastoril) na Terra Prometida como as outras tribos, Deus fez provisão para o sustento deles através do dízimo das outras famílias de Israel. De fato, em Números 18, 31, é dito: E o comereis em todo o lugar, vós e as vossas famílias, porque vosso galardão é pelo vosso ministério na tenda da congregação.

O dízimo foi o pagamento/recompensa que Deus supriu para os levitas, pelos seus serviços sacerdotais. Isso é similar ao salário recebido pelos funcionários do governo hoje no país, pago por meio de impostos e taxas direcionados ao trabalhador comum.

A primeira coisa a observar nesse texto, tão utilizado pelos teólogos dizimistas atuais, é que o dízimo, destinado a sustentar os levitas, era dado ao Senhor como oferta alçada. Daí alguns afirmarem que o destino do dízimo era exclusivamente sustentar o clero.

No entanto, nem todos os levitas eram sacerdotes. Alguns eram: professores (Deuteronômio 24, 8 e 33, 10 / II Crônicas 35, 3 / Neemias 8, 7), juízes (Deuteronômio 17, 8-9 e 21, 5 / I Crônicas 23, 4 / II Crônicas 19, 8), trabalhadores da saúde (Levítico 13, 2 e 14, 2 / Lucas 17, 14), cantores, músicos (I Crônicas 25, 1-31 / II Crônicas 5, 12 e 34,12), escritores, bibliotecários (I Crônicas 2, 55 / II Crônicas 34, 13), arquitetos e construtores (II Crônicas 34, 8-13).

Aqueles defensores de que o dízimo seja destinado apenas ao sustento dos pastores, os “levitas modernos”, deveriam incluir em sua lista outros trabalhadores da igreja: músicos, cantores, zeladores, construtores, professores, diáconos, presbíteros, anciãos etc.

O dízimo hoje não tem nenhuma correlação com o dízimo bíblico. Não temos templo, sacerdotes e levitas. Não vivemos em uma sociedade teocrática. A lei cerimonial acabou. Não existe mais a Casa do Tesouro, depósito central para aquela quantidade enorme de alimentos e animais.

O Dízimo para o Festival

Deuteronômio 14, 22-27:

Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. E, perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao Senhor teu Deus todos os dias. E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o Senhor teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o Senhor teu Deus te tiver abençoado; então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o Senhor teu Deus; e aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o Senhor teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo.

Números, capítulo 18, verso 21, diz que Deus havia dado todo o dízimo em Israel como herança aos levitas. Se todo o dízimo havia sido dado aos levitas, que dízimo é esse, do qual fala o texto, usado para prover as festas e festivais religiosos de Israel?

A resposta é: um segundo dízimo. O primeiro era usado para o sustento dos levitas e o segundo para prover os festivais religiosos, tanto que chegou a ser referido como O Dízimo para o Festival.

O povo de Israel devia usar este dízimo para comer na presença do Senhor, em Jerusalém – local que Ele escolheu para estabelecer seu nome. Se fosse demasiadamente incômodo para as pessoas de longe trazerem seu dízimo, seria permitido a elas que o vendessem e trouxessem o dinheiro (apurado) até Jerusalém, onde poderiam comprar o necessário para os festivais (*).

Deus expressamente encoraja cada pessoa a gastar o dinheiro em tudo o que deseja a tua alma, incluindo bebida forte! O propósito era que o povo de Israel pudesse aprender a temer o Senhor e a regozijar-se ante Ele. Note que temer ao Senhor e regozijar-se ante Ele não são sentimentos mutuamente exclusivos, mas, complementares; deveriam acompanhar um ao outro!

O Dízimo para o Festival tornou possível ao povo de Israel ter toda a comida e bebida necessária para que se pudesse usufruir gozosamente das festas religiosas e adorar o Senhor.

(*) Para pessoas de regiões muitos distantes, levar animais para sacrifícios até Jerusalém era um trabalho muito árduo e dispendioso. Por isso, elas os vendiam e traziam o dinheiro para comprar o necessário para o culto no templo, que acabou se transformando em um grande centro de negócios, onde se comercializava de tudo e havia cambistas que trocavam o dinheiro dos visitantes por uma moeda local.

Será que isso é diferente hoje, enquanto os recursos de igrejas menores ou “filiais” são enviados às “igrejas mães”, “sedes” ou aos “vaticaninhos” particulares (onde o culto a Deus também se transformou em um grande negócio)?

(Mateus 21:12)

O Dízimo para os Pobres

Deuteronômio 14, 28-29:

Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas. Então virá o levita (pois nem parte nem herança têm contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem.

Aqui somos ensinados a respeito de um terceiro dízimo, coletado a cada terceiro ano. Os comentaristas bíblicos dividem-se quanto à ideia de que esse seria realmente um terceiro dízimo, em separado. Para alguns, ele seria apenas o segundo dízimo usado de modo diferente, no terceiro ano.

O historiador judeu Josephus apoia o ponto de vista de um terceiro dízimo, em separado. Outros antigos comentaristas judeus têm escrito em apoio à concepção de que o segundo tipo de dízimo, a cada três anos, era coletado e usado com outro fim.

É impossível determinar com absoluta certeza quem está certo. De qualquer modo, o povo judeu tinha sido ordenado a dar pelo menos vinte por cento (dez por cento mais dez por cento) das suas colheitas e rebanhos.

Este dízimo particular bem poderia ser chamado O Dízimo para os pobres. Não era recolhido em Jerusalém, mas nas aldeias. As pessoas de cada aldeia deveriam trazer uma décima parte de suas colheitas e rebanhos e juntar tudo, para prover os pobres, incluindo estrangeiros, órfãos e viúvas.

Em muitos aspectos, o dízimo exigido pela Lei é similar à taxação que o governo impõe sobre nós hoje. Israel era governado por uma teocracia. Sob ela, o povo era responsável por prover os trabalhadores do governo (sacerdotes e levitas em geral), os dias santificados (festas de alegria ao Senhor), e os pobres (estrangeiros, viúvas e órfãos).

Alguns teólogos afirmam que o dízimo poderia ter três aplicações distintas:

• poderia ser comido pelo dizimista;

• deveria socorrer órfãos, viúvas e necessitados;

• deveria sustentar os levitas.

Outros afirmam que havia três tipos de dízimo, divididos assim:

- No primeiro ano 10% para os sacerdotes + 10% para serem consumidos pelos dizimistas.

-No segundo ano 10% para os sacerdotes + 10% para serem consumidos pelos dizimistas

.- No terceiro 10% para os sacerdotes + 10% para serem consumidos pelos dizimistas + 10% para os necessitados. (O dízimo destinado aos órfãos e viúvas era trienal).

Tomando o dízimo pago a cada três anos e dividindo-o por três, chegaremos a 3,33% anuais. Desta forma em termos ANUAIS um israelita daria 10% + 10% + 3,33% = 23,33%. 23,33 de dízimo por ano!

Mas em um ponto as diferentes opiniões convergem: o dízimo era para a dispensação da lei e o âmago da questão, tanto na velha quanto na Nova Aliança, era sustentar os menos favorecidos.

Isaías 1, 11-17:

De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes.

Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios?

Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene.

As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer.

Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.

Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal.

Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas.

Tiago 1, 27:

A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.

Depois voltaremos a discorrer sobre a Nova Aliança, agora, contudo, continuaremos a peregrinação pelo Velho Testamento.

OFERTAS PARA O TEMPLO

Davi recolheu ofertas enquanto reinava para que seu filho Salomão, que o sucederia no trono de Israel, construísse o templo. Preste atenção nesta passagem maravilhosa:

I Crônicas 29, 1-20:

Disse mais o rei Davi a toda a congregação: Salomão, meu filho, a quem só Deus escolheu, é ainda moço e tenro, e esta obra é grande; porque não é o palácio para homem, mas para o Senhor Deus.

Eu, pois, com todas as minhas forças já tenho preparado para a casa de meu Deus ouro para as obras de ouro, e prata para as de prata, e cobre para as de cobre, ferro para as de ferro e madeira para as de madeira, pedras de ônix, e as de engaste, e pedras ornamentais, e pedras de diversas cores, e toda a sorte de pedras preciosas, e pedras de mármore em abundância.

E ainda, porque tenho afeto à casa de meu Deus, o ouro e prata particular que tenho eu dou para a casa do meu Deus, afora tudo quanto tenho preparado para a casa do santuário: três mil talentos de ouro de Ofir; e sete mil talentos de prata purificada, para cobrir as paredes das casas. Ouro para os objetos de ouro, e prata para os de prata; e para toda a obra de mão dos artífices. Quem, pois, está disposto a encher a sua mão, para oferecer hoje voluntariamente ao Senhor?

Então os chefes dos pais, e os príncipes das tribos de Israel, e os capitães de mil e de cem, até os chefes da obra do rei,voluntariamente contribuíram.

E deram para o serviço da casa de Deus cinco mil talentos de ouro, e dez mil dracmas, e dez mil talentos de prata, e dezoito mil talentos de cobre, e cem mil talentos de ferro.

E os que possuíam pedras preciosas, deram-nas para o tesouro da casa do Senhor, a cargo de Jeiel, o gersonita.

E o povo se alegrou porque contribuíram voluntariamente; porque, com coração perfeito, voluntariamente deram ao Senhor; e também o rei Davi se alegrou com grande alegria.

Por isso Davi louvou ao Senhor na presença de toda a congregação; e disse Davi: Bendito és tu, Senhor Deus de Israel, nosso pai, de eternidade em eternidade.

Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, Senhor, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre todos.

E riquezas e glória vêm de diante de ti, e tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; e na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo.

Agora, pois, ó Deus nosso, graças te damos, e louvamos o nome da tua glória. Porque quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos oferecer voluntariamente coisas semelhantes? Porque tudo vem de ti, e do que é teu to damos.

Porque somos estrangeiros diante de ti, e peregrinos como todos os nossos pais; como a sombra são os nossos dias sobre a terra, e sem ti não há esperança.

Senhor, nosso Deus, toda esta abundância, que preparamos para te edificar uma casa ao teu santo nome, vem da tua mão, e é toda tua.

E bem sei eu, Deus meu, que tu provas os corações, e que da sinceridade te agradas; eu também na sinceridade de meu coraçãovoluntariamente dei todas estas coisas; e agora vi com alegria que o teu povo, que se acha aqui, voluntariamente te deu.

Senhor Deus de Abraão, Isaque, e Israel, nossos pais, conserva isto para sempre no intento dos pensamentos do coração de teu povo; e encaminha o seu coração para ti.

E a Salomão, meu filho, dá um coração perfeito, para guardar os teus mandamentos, os teus testemunhos, e os teus estatutos; e para fazer tudo, e para edificar este palácio que tenho preparado.

Então disse Davi a toda a congregação: Agora louvai ao Senhor vosso Deus. Então toda a congregação louvou ao Senhor Deus de seus pais, e inclinaram-se, e prostraram-se perante o Senhor, e o rei.

II Coríntios 9, 7:

Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.

Novamente afirmo: Quem dera os cristãos de hoje também tivessem a liberalidade daqueles que serviam ao Senhor no passado! Não haveria necessidade de tantos apelos, e até ameaças, em nome de Deus.

Muitos tinham mais discernimento da graça, mesmo vivendo no tempo da aliança da lei, do que aqueles que vivem hoje, na aliança da graça.

OFERTAS APÓS O CATIVEIRO

Com o passar do tempo, os dízimos foram tomando destino exclusivo para os levitas. No segundo templo, após o cativeiro, já se observa uma institucionalização acentuada das ofertas, conforme narrado em Neemias, capítulo 10, versos 38 e 39, e capítulo 13, versos 10 a 12.

Após o cativeiro, Neemias faz algumas modificações na regulamentação da Lei de Moisés. Provavelmente motivado pela situação financeira caótica do pós-exílio, ele reduz o valor da taxa do templo de meio siclo (Êxodo 30, 12-16) para um terço de siclo (Neemias 10, 32-33) e implementa novas regras.

Deve-se levar em conta que Neemias era um restaurador. Reconstrutor de uma sociedade cuja religião funcionava sobre pilares cerimoniais. Algumas de suas ações foram:

• reduzir a taxa do templo (Neemias 10, 32-33);

• organizar para que os dízimos fossem trazidos ao templo, Casa do Tesouro, para sustentar os levitas (Neemias 10, 37);

• regulamentar o sustento dos sacerdotes levitas que viveriam na capital, uma vez que noventa por cento da população passava a morar em outras cidades, fora de Jerusalém.

Nenhum sistema de pagamento de dízimo em dinheiro, no entanto, foi instituído pelo reformador (Neemias 10, 35). Os judeus continuariam levando seus dízimos em forma de alimentos, frutos de suas colheitas.

Neemias 12, 44:

Também no mesmo dia se nomearam homens sobre as câmaras, dos tesouros, das ofertas alçadas, das primícias, dos dízimos, para ajuntarem nelas, dos campos das cidades, as partes da lei para os sacerdotes e para os levitas; porque Judá estava alegre por causa dos sacerdotes e dos levitas que assistiam ali.

Note que o texto diz que os dízimos eram exigências da Lei.

Estes dízimos não eram voluntários como os das vidas de Abraão e Jacó. Similarmente, lemos em Hebreus, capítulo 7, verso 5:

E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão.

Indiscutivelmente, o dízimo nunca foi voluntário sob a Lei de Moisés. Note aqui que, nos dias de Neemias, homens eram indicados para juntarem as ofertas e os dízimos em câmaras designadas para aquele propósito particular. Essas câmaras depois se tornaram conhecidas como Casas do tesouro. Essa informação será importante quando olharmos para o próximo texto.

Malaquias 3, 8-12:

Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos.

Examinemos essa passagem verso a verso, para que dela possamos extrair importantes verdades.

Verso 8

Esse verso nos diz que quando um homem retém seus dízimos ele está roubando, na realidade, a Deus. Isto porque ele está retendo algo que não lhe pertence e que antes é propriedade de Deus. Sob o Velho Pacto, o dízimo era mandatário, portanto retê-lo era se tornar um ladrão. Note também que Deus diz que o povo o estava roubando em dízimos, no plural. Esses dízimos referem-se aos diferentes dízimos requeridos do povo de Deus – o Dízimo para o Levita, o Dízimo para as Festas ao Senhor e o Dízimo para os Pobres.

Adicionalmente, observe que Deus está condenando também o reter das ofertas. Essas, sem dúvida, referem-se às ofertas especificadas em Levítico, capítulo 1, verso 5, tais como: a oferta queimada (holocausto), a oferta dos manjares, a oferta de paz, a oferta pelos pecados e a oferta pelas culpas. Todas eram constituídas de sacrifícios de animais. O suprimento de comida e mantimento para os levitas era provido, em grande parte, por meio destes sacrifícios.

Uma importante pergunta emerge neste ponto. Por que reconhecemos que o sacrifício de animais não é coisa para o Novo Pacto, mas dizemos que o dízimo o é? Se estivéssemos sob a obrigação de pagar dízimos hoje, então, certamente, ainda estaríamos obrigados a oferecer sacrifícios de animais. Deus amarrou um ao outro (os dízimos e os sacrifícios), e disse que o povo O estava roubando por reter a ambos. Não podemos decidir “pegar e escolher” qual dos dois ofereceremos a Deus hoje. Ou estamos sob a obrigação de oferecer ambos, tanto dízimos como ofertas de animais, ou ambos foram abolidos pela ab-rogação da Lei Mosaica.

Verso 9

Aqui diz-se que o povo de Israel, por estar retendo os dízimos e ofertas, consequentemente estava amaldiçoado. Note que o verso não diz: Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda a humanidade. Ao contrário, fala: Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação.

Se dizimar fosse um mandamento moral e eterno para todos os povos de todos os tempos, então todos estes estariam sob maldição. Mas no texto é dito somente que a nação de Israel estava sob a maldição. Em Deuteronômio 28, diz-se que se Israel, sob a Lei Judaica, desobedecesse aos mandamentos de Deus, então a nação seria amaldiçoada. Note os seguintes textos:

Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das tuas ovelhas. E os teus céus, que estão sobre a cabeça, serão de bronze; e a terra que está debaixo de ti, será de ferro. O Senhor dará por chuva sobre a tua terra, pó e poeira; dos céus descerá sobre ti, até que pereças. Lançarás muita semente ao campo; porém colherás pouco, porque o gafanhoto a consumirá. Plantarás vinhas, e cultivarás; porém não beberás vinho, nem colherás as uvas; porque o bicho as colherá. Em todos os termos terás oliveiras; porém não te ungirás com azeite; porque a azeitona cairá da tua oliveira. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do Senhor teu Deus, para que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do Senhor teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenado (Deuteronômio 28, 18,23-24,38-40,45).

Nestes versos, Deus adverte que, se o Seu povo desobedecesse a Seus mandamentos e estatutos, as ceifas falhariam, as chuvas não viriam, as colheitas seriam pequenas, a locusta (tipo de grilo ou gafanhoto) consumiria a comida e o fruto das árvores falharia.

Verso 10

Nesta passagem, Deus fala da Casa do Tesouro. Com base em Neemias, capítulo 12, verso 44, sabemos que esse termo refere-se às câmaras no templo, postas à parte e designadas para guardar os dízimos dados pelo povo para o sustento dos sacerdotes (e a os demais levitas).

Não há nenhuma evidência de que devamos associar estas Casas do tesouro aos prédios das igrejas para os quais os crentes do Novo Pacto levam seu dinheiro. Ademais, a razão pela qual Israel levava todos os dízimos para a Casa do Tesouro era que houvesse bastante alimento na casa de Deus. O propósito era que os levitas tivessem comida.

Nessa passagem também é dito que se o povo fosse fiel em trazer dízimos à Casa do Tesouro, Deus abriria as janelas do céu e derramaria para eles uma bênção até que transbordasse. Isto sem dúvidas refere-se à promessa de Deus de trazer abundantes chuvas para produzir a bênção de uma transbordante ceifa.

Verso 11

Neste verso, Deus promete que se Israel trouxer os dízimos e as ofertas, Ele repreenderá o devorador para que esse não destrua o fruto da terra. Sem dúvida, o “devorador” é uma referência às locustas que virão sobre os campos de Israel se o povo falhar em trazer o dízimo (Deuteronômio 28, 38).

Verso 12

Neste verso, Deus graciosamente promete que, se Israel for obediente no dar os seus dízimos e ofertas, todas as nações a chamarão de abençoada. É interessante notar que Deus não apenas advertiu Israel de que seria amaldiçoada se desobedecesse a Lei Mosaica, mas também prometeu que ela seria abençoada se a obedecesse. Observe estes textos:

E será que, se ouvires a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra. E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do Senhor teu Deus. (...) Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais; e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. (...) O Senhor mandará que a bênção (esteja) contigo nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que te der o Senhor teu Deus. (...) E o Senhor te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o Senhor jurou a teus pais te dar. O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado(Deuteronômio 28, 1-2,4,8,11-12).

Aqui, Deus promete abençoar Israel materialmente se a nação fosse obediente. A promessa inclui abundantes colheitas, copiosas chuvas, e grandes aumentos nas manadas e rebanhos.

Portanto, estou convicto de que as bênçãos e maldições escritas em Malaquias 3, 8-12 referem-se às bênçãos materiais que Deus prometeu a Israel se ela obedecesse seus mandamentos e estatutos. Dar o dízimo foi um destes mandamentos.

O que podemos concluir, então, sobre o dízimo sob a Lei Mosaica? Com segurança, podemos pensar que o dízimo não tinha nada a ver com dar dinheiro regularmente, numa base semanal ou mensal, mas, ao contrário, tinha relação com adorar a Deus conforme ordenado no tempo do Velho Pacto.

O mandamento do dízimo, tal como os mandamentos para não comer camarão, nem ostras ou animais impuros, tornou-se obsoleto e foi colocado de lado pela inauguração do Novo Pacto, na morte de Cristo. O dízimo foi o sistema de impostos e taxas ordenado por Deus sob o sistema teocrático do Velho Testamento.

Se alguém deseja dar o dizimo realmente (literalmente) de acordo com as Escrituras, teria que fazer o seguinte:

1 – Deixar seu trabalho e comprar uma terra, de modo que possa criar gado, plantar e colher (grãos, verduras e frutas).

2 – Encontrar algum descendente de Levi para sustentar, e esse a um descendente do levita Arão, que seja sacerdote no templo, em Jerusalém.

3 – Usar suas colheitas para observar festas religiosos do Velho Testamento – Páscoa, Pães Asmos, Pentecostes, Tabernáculos – quando, como e onde Deus ordenou, literalmente.

4 – Começar a dar pelo menos vinte por cento de todas as suas colheitas e rebanhos a Deus.

5 – Por fim, esperar que, com toda certeza, Deus amaldiçoe sua nação (em oposição ao próprio crente) com grande insuficiência material se ela for infiel, ou a abençoe com grande abundância material se for fiel.

Penso que todos devam concluir que isto é completamente absurdo. Reconhecemos que Cristo aboliu o sacerdócio levítico, os sacrifícios de animais e as festas religiosas do Velho Testamento. Bem, se isto é verdade, por que estamos tentando manter o dízimo, que foi parte e parcela de todas essas ordenanças do Velho Testamento?

Aqueles que defendem a entrega do dízimo em Malaquias 3, 10 deveriam, então, transformar as igrejas em celeiros para saciar a fome dos necessitados.

NOVA ALIANÇA

Devemos lembrar que houve um hiato de 400 anos – alguns afirmam 430 anos, o mesmo período que os Israelitas ficaram como escravos dos Egípcios – entre o profeta Malaquias, da Velha Aliança, e o surgimento do profeta João Batista, preparador da Nova Aliança.

JOÃO BATISTA

Se para Malaquias o dízimo era de suma importância, para João Batista o dízimo era irrisório perto da realidade daquilo que Deus faria por meio de Cristo Jesus.

Caio Fabio afirma que o dízimo é um excelente ponto de partida, mas um péssimo ponto de chegada.

Lucas 3, 2-18:

Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados; segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas. Todo o vale se encherá, E se abaixará todo o monte e outeiro; E o que é tortuoso se endireitará, E os caminhos escabrosos se aplanarão; E toda a carne verá a salvação de Deus.

Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.

E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois?

E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira.

E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?

E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado.

E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo.

E, estando o povo em expectação, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo, respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.

Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga.

E assim, admoestando-os, muitas outras coisas também anunciava ao povo.

Apenas uma observação a respeito de João Batista: pense bem que tipo de pregador era este. Não usava roupas de grife, não comia nos melhores restaurantes, não morava nas melhores casas, não pregava nos melhores lugares, não anunciava para agradar seus espectadores e, ainda, dizia-se indigno. Mesmo assim Cristo o chamou de o maior homem nascido de mulher. Quanta diferença dos pregadores de hoje em dia, que até se autoproclamam doutores em divindade!

JESUS

Cristo não colocou vinho novo (graça) em odres velhos (lei) (Marcos 2, 22).

Jesus cita o dízimo apenas duas vezes e o faz para expor a hipocrisia dos fariseus.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho e desprezais o mais importante da lei, ojuízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas (Mateus 23, 23).

Essa passagem em Mateus é repetida de forma similar em Lucas, capítulo 11, verso 42. Em ambos os casos, é importante notar que o dízimo tinha a ver com ervas que serviam de condimentos e eram cultivadas no quintal (o produto do campo), não com dinheiro.

Na Bíblia Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), assim está escrito:

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas não obedecem aos mandamentos mais importantes da lei, que são o de serem justos com os outros, o de serem bondosose o de serem honestos. Mas são justamente estas coisas que vocês devem fazer, sem deixar de lado as outras.

Àqueles que querem legitimar o dízimo usando estas passagens, com o argumento que Jesus disse: deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas, quero lembrar que:

1 – Jesus estava se dirigindo aos fariseus, judeus legalistas que viviam na dispensação da lei.

2 – Do mesmo modo Jesus dirigia-se aos judeus curados por Ele (Mateus 8, 2-4; Marcos 1, 40-45; Lucas 5, 12-16; Lucas 17, 11-14).

3 – Jesus, ainda em vida, estava também debaixo da lei (Mateus 5, 17).

4 – A dispensaçào da graça só teve validade após o sacrifício de Cristo na cruz do calvário ( capítulo 9 de Hebreus: qué obra maravilhosa!).

5 – Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (I Pedro 2, 9).

Outra passagem se encontra em Lucas 18:12: Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo .

Jesus, nessa passagem, está ensinando a parábola acerca do fariseu e do cobrador de impostos. Cristo põe estas palavras na boca dofariseu, que via a si mesmo como justo: dou os dízimos de tudo quanto possuo. Cristo está enfatizando que o homem confia em suas obras para ser aceitável por Deus, todavia, a despeito do melhor que faça, não é justificado aos olhos de Deus.

Infelizmente esta tem sido a doutrina não somente pregada, mas ensinada em muitos círculos religiosos: toda sorte de bênçãos em nossas vidas são advindas da nossa fidelidade em dizimar e ofertar. Como se o dízimo fosse uma vacina contra todos os males, como enfermidades, falências, problemas matrimoniais etc.

Cristo foi na direção inversa a esta percorrida por muitas igrejas “atuais”. Vejamos:

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro (Mateus 6, 24).

***

Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus (Mateus 19, 23).

***

E propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; E ele arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus (Lucas 12, 16 a 21).

***

Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente.

Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; e desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas.

E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.

E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.

Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado (Lucas 16, 19-25).

***

E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?

Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe.

E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade.

E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me.

Mas, ouvindo ele isto, ficou muito triste, porque era muito rico.

E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! (Lucas 18, 18 a 24)

***

Jesus afirmou salvação apenas na casa de Zaquel, quando esse converteu também o bolso:

E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando.

E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico.

E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura.

E, correndo adiante, subiu a um sicômoro para o ver; porque havia de passar por ali.

E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa.

E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente.

E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.

E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.

E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão (Lucas 19, 1 a 9).

***

O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração(Lucas 4, 18).

***

Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração (Mateus 6, 19-21).

***

Ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação (Lucas 6, 24).

***

Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição (I Timóteo 6, 9).

***

São essas as verdades ensinadas pela igreja de Cristo? Ou temos visto outro Evangelho sendo anunciado? Pois me parece que transformaram Deus em um tipo de gênio da lâmpada, disposto a realizar todas as nossas vontades, dependendo do tanto que estamos dispostos a “investir”, “ofertar” ou “dar de dízimo”.

Não se esqueçam que Jesus foi trocado por dinheiro. Judas, ao perceber que o reino de Cristo não consistia em poder material, procurou um meio de obter lucro por conhecê-lo. Será que muitos não são agem assim hoje, dizendo que conhecem a Deus para obter benefícios?

A estes que pensam que conhecem a Deus, quão duro será ouvir da própria boca d’Ele: E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade (Mateus 7, 23).

*** Naquilo que Jesus venceu o diabo ao ser tentado,e justamente no que a “igreja”sucumbiu .

Pois só anunciam um “Deus”de provisão,que esta disposto a transformar todas nossas montanhas em pães.

Se acham detentoras dos poderes celestiais, ordenam,determinam,declaram e não somente mandam nos anjos,como mandam no próprio Deus.

E só se preocupam em expandir “Seus”reinos aqui na terra.(Mateus 4:1 ao 11)

E naquilo também que Jesus se levantou contra, que era o que os religiosos estavam fazendo na casa de Deus: E, entrando no templo, começou a expulsar todos os que nele vendiam e compravam (Lucas 19, 45).

***

Trata-se daquilo em que transformaram a igreja hoje. Há de tudo dentro dos templos: lanchonetes, livrarias, locadoras e até discotecas; sem dizer da infinidade de amuletos vendidos. Seria de fazer Lutero, se fosse vivo, corar de vergonha.

Aliás, acho que este foi um dos grandes erros de Lutero: em vez de ter feito uma Reforma, deveria ter feito uma implosão e começado tudo de novo. (talvez seja porque não havia dinamite naquela época)

Qual a diferença entre Tetzeu (celebre clérigo católico cobrador de indulgências da época da Reforma) e os vendilhões dos templos modernos, onde se cobra por tudo, de pregações a testemunhos, e em que, quanto mais famoso o palestrante ou espetacular o testemunho, mais alto é o cachê?

Já ouvi, da própria boca de um representante de uma editora de livros evangélicos, que a grande maioria das publicações é feita apenas para encher livrarias e bolsos de “notórios” escritores, e que quanto mais atrativo for o título ou inovadora a proposta, mais vendáveis serão.

Há livros que ensinam a emagrecer pela oração e que prometem de tudo, até tentam explicar quem seria o “pai” de Deus. Sem dizer dos que contém “fórmulas mágicas” para solucionar qualquer problema. E os mais absurdos são aqueles com sermões prontos, para toda e qualquer ocasião, ou os que mostram como encher os templos (ou seria os bolsos?) daqueles que se dizem interessados na casa do Senhor.

Só existe um caminho, uma verdade e uma razão na vida:

Pois eu vos digo que está aqui quem é maior (Jesus) do que o templo (Mateus 12, 6).

ANANIAS E SAFIRA

Muitos alegam que Ananias e Safira foram mortos por Deus porque não entregaram o valor integral da sua oferta. Na verdade, a lição ensinada ali era contra a hipocrisia – pois não adianta entregar o exterior, sem antes entregar totalmente o interior.

Atos dos apóstolos 5, 1-5:

Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade, e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos.

Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração?Não mentiste aos homens, mas a Deus.

E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram.

Percebam um grande contraste entre a oferta de Ananias e Safira e a da viúva pobre:

Vindo, porém uma viúva pobre depositou ali duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante. E, Jesus, chamando seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhe sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento (Marcos 12, 41-44).

Este é outro absurdo praticado pelas igrejas de hoje. Em vez de jogar redes sobre todos os tipos de peixes, é jogada a salva (recipiente onde se recolhem as ofertas, parecido com um coador de café (acho que é dali que coam mosquitos e engolem camelos) com o intuito, não de fisgar o peixe, mas de rapinar seus pertences.

Depois de muito tempo, convenci um grande amigo a ir a uma reunião comigo, onde um pregador famoso estaria ministrando. Nem bem havia começado o encontro, resolveram tirar ofertas. Quando passaram a salva ao meu amigo, ele me olhou é disse: Mal entrei neste clube e me estão cobrando entrada, imagine quanto vai me custar ser sócio? Não preciso nem dizer que ele nunca mais colocou o pé dentro de uma igreja.

Oferta é um ato espiritual, que Deus só requer daqueles que têm uma aliança com Ele.

Sem fé é impossível agradar-Lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que o buscam (Hebreus 11, 6).

E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum.

E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister (Atos dos apóstolos 2, 44-45).

***

Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. (I Coríntios 2, 14-15)

***

Porque a administração deste serviço não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dá a Deus.

Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos (II Coríntios 9, 12-13)

***

Não vou discorrer sobre o Velho Testamento, onde ofertas só eram requeridas do povo de Deus, pois seria necessário mais um capítulo apenas para este assunto. Como meu interesse é permanecer no solo da graça, sigamos adiante.

Para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade (I Timóteo 3, 15).

O APóSTOLO PAULO e AS OFERTAS

I Coríntios 16, 1-2:

Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar.

No texto acima, o apóstolo Paulo dá direções à igreja de Corinto: é em proporção a quanto cada um tem prosperado que se deve dar na coleta para os santos em Jerusalém, os quais estavam em grande pobreza e passando por enormes aflições.

Embora não exista menção ao fato de os santos em Corinto darem um dízimo (ou qualquer outra percentagem imposta), eles são instruídos a darem proporcionalmente a sua prosperidade. O foco é simples: aqueles com mais dinheiro deem mais, aqueles com menos dinheiro, podem dar menos. Nada mais claro nem mais simples.

Atos dos apóstolos 11, 29:

E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judeia.

Foi proporcionalmente aos seus meios que os irmãos em Antioquia ofertavam aos irmãos que sofriam na Judeia. Em outras palavras, deram de acordo com suas capacidades.

II Coríntios 9, 7:

Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.

Aqui, Paulo orienta para que seja dado aquilo que há proposto em cada coração. Note que o apóstolo não diz quanto dar, nem impõe uma percentagem fixa como padrão. Ele simplesmente diz que, decidida a quantia, deve-se ir em frente e efetivar o ofertar.

Muitas vezes, no instante em que vemos uma necessidade, determinamo-nos a dar certa quantia, mas depois, quando o tempo de dar nos alcança, somos tentados a voltar atrás (ou ficar aquém). Paulo ensina que devemos ser fiéis em fazer o bem segundo o que já tínhamos proposto em nosso coração.

É importante notar igualmente que o apóstolo Paulo deixa o valor a critério dos coríntios. Não devemos permitir que outras pessoas nos manipulem ou nos intimidem, psicologicamente ou de qualquer outra forma, levando-nos a ofertar por um sentimento de culpa ou pressão. Não pode haver nenhuma compulsão externa em nosso dar; o valor tem que vir de nossa própria decisão.

Os textos do Novo Testamento nos ensinam que Deus deixa por nossa conta a decisão sobre o valor das contribuições. Sim, devemos ofertar em proporção aos nossos meios e a como Deus nos têm prosperado, mas, ao final, somos livres para dar aquilo que temos desejo. Quão libertador isto é! Principalmente quando consideramos as táticas manipuladoras que muitas igrejas usam para arrancar dinheiro de seus fiéis.

O PROPÓSITO DAS NOSSAS OFERTAS

Devemos usar nosso dinheiro para satisfazer que tipos de necessidade? O Novo Testamento nos dá alguma luz sobre este importante assunto?

As Escrituras são muito claras nesta área. O Novo Testamento ensina que há três propósitos para o nosso ofertar:

1. Satisfazer as necessidades dos santos

Este tema é como um fio que permeia toda a Escritura. Consideremos alguns textos:

E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister (Atos dos apóstolos 2, 44-45).

***

O espírito de amor e generosidade era tão grande, na igreja primitiva, que os crentes, de própria vontade e alegremente, abriram mão de suas próprias propriedades e possessões, para ministrarem às necessidades dos outros santos. Eles chegaram mesmo ao ponto de vender suas terras e casas para tomarem conta um do outro (Atos dos apóstolos 4, 34).

***

Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus?(I João 3, 17)

***

E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé (Gálatas 6:9-10).

***

Embora o façamos bem não seja claramente definido, seguramente incluiria o ofertar para satisfazer as necessidades dos domésticos da fé.

Em adição a estes textos, lemos também em Mateus, capítulo 25, versos 31 a 40, que, quando Cristo voltar, separará as ovelhas dos bodes. As ovelhas são descritas como aqueles que alimentaram Cristo quando ele estava faminto, deram-lhe de beber quando estava sedento, vestiram-no quando estava nu. Quando as ovelhas replicam: Senhor, quando (...) e te demos de comer? (...) e te demos de beber?(...) e te hospedamos?(...) e te vestimos?(...) e fomos ver-te? Cristo responde: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.

Jesus, então, nos diz claramente que, quando usamos nosso dinheiro para vestir e alimentar os irmãos de Cristo – que, de acordo com Mateus, capítulo 12, verso 50 é qualquer que fizer a vontade de meu Pai (Deus) que está nos céus – estamos ministrando a ele.

Ademais, I Timóteo, capítulo 5, verso 16, dá instruções sobre como a igreja deve sustentar viúvas desvalidas. Ainda mais, temos visto, nos textos já citados, as muitas exortações do apóstolo Paulo para ofertar aos santos pobres em Jerusalém. Portanto, é bastante claro que uma das prioridades do ofertar no Novo Testamento é satisfazer as necessidades dos santos.

2. Satisfazer as necessidades dos obreiros cristãos

Além de usar o dinheiro para satisfazer as necessidades dos nossos irmãos e irmãs em Cristo, as Escrituras também nos levam a utilizá-lo para sustentar os que trabalham na obra do Senhor. Consideremos as seguintes passagens:

Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário (I Timóteo 5, 17-18).

Neste texto, honra significa mais do que estima e respeito, pois, no verso 3 do mesmo capítulo, Paulo manda a Timóteo: Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas. Honrar estas viúvas é provê-las (verso 8) e assisti-las (verso 16).

Quando menciona honrar os anciãos que trabalham duramente na pregação e ensino da Palavra, imediatamente depois de falar que é preciso honrar as viúvas, Paulo tem a mesma coisa em mente: prover e assistir aos anciãos financeiramente, de modo que possam dedicar-se ao trabalho na Palavra.

Um ancião que ensina é como um boi a que se deve permitir comer enquanto está debulhando. Em outras palavras, enquanto está trabalhando com todo esforço. Ele também é como um operário, digno de seu salário. A uniforme prática apostólica do Novo Testamento foi a de apontar anciãos para superintenderem as igrejas que os apóstolos plantavam. Paulo simplesmente está dirigindo as igrejas a proverem e assistirem financeiramente estes anciãos, de modo que possam dar seu tempo à tarefa de ministrarem ao rebanho.

I Coríntios 9, 6-14:

Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado? Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo? Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois? Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante. Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais? Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo. Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho.

Nesta passagem Paulo clama o direito dos apóstolos de se absterem de trabalhos seculares e de receberem o sustento material daqueles a quem serviam. De fato, Paulo assevera que o Senhor mandou àqueles que proclamam o evangelho que obtenham seu viver também do evangelho.

Filipenses 4, 15-18:

E bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente; Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta. Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância. Cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus.

Neste texto o apóstolo declara expressamente que a dádiva enviada pelos filipenses, um fragrante aroma, foi um sacrifício aceitável agradável a Deus. O próprio Deus nos tem dado sua aprovação para usarmos nosso dinheiro para sustento de fiéis obreiros cristãos. Portanto, é importante que o povo de Deus utilize seus recursos financeiros para sustentar quer sejam anciãos de uma igreja local, evangelistas itinerantes ou missionários.

3. Satisfazer as necessidades dos pobres

Em adição ao uso do dinheiro para satisfazer às necessidades dos santos e obreiros cristãos, as Escrituras também nos mandam utilizá-lo na satisfação das necessidades dos pobres. Considere os seguintes textos:

Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração (Lucas 12, 33-34).

***

Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade (Efésios 4, 28).

Aqui a pessoa que sofre a necessidade não é identificada como crente, mas presumivelmente pode ser qualquer um padecendo de privação.

A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo (Tiago 1, 27).

Visitar órfãos e viúvas deve ser mais que uma ocasião social. Está implícita, na declaração, a ideia de que ajudá-los requer ofertar sacrificialmente.

Como vimos, podemos sumarizar o ensino do Novo Testamento sobre o propósito do ofertar para:

1. satisfazer as necessidades dos santos,

2. satisfazer as necessidades dos obreiros cristãos,

3. satisfazer as necessidades dos pobres.

Note a similaridade do dízimo da Velha Aliança com a oferta da Nova Aliança:

VELHA ALIANÇA
NOVA ALIANÇA

O dízimo podia ser comido pelo dizimista.
A oferta é destinada a satisfazer as necessidades dos santos.

O dízimo deveria sustentar os levitas.
. A oferta deve satisfazer as necessidades dos obreiros cristãos

O dízimo deveria socorrer órfãos, viúvas e necessitados.
. A oferta deve satisfazer as necessidades dos pobres

JÁ QUE FALAMOS DE UMA NOVA ALIANÇA

VAMOS AO TEXTO QUE POR SI SÓ NOS EXPLICA TUDO:

Hebreus, capítulo 7, que recapitula a experiência de Abraão dando o dízimo a Melquisedeque. O dízimo é apresentado como lei a partir do verso 5, dentro do sistema levítico:

E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que estes também tenham saído dos lombos de Abraão (Hebreus 7, 5).

A lei citada é a lei de Moisés, lei que obrigava o israelita a levar os

dízimos para os levitas. Segundo esta lei, os levitas tinham o direito de tomar os dízimos do povo de Israel. Isso era lei! Lei completamente vinculada ao ministério sacerdotal dos levitas.

Os versos 6-10 do mesmo capítulo falam sobre o fato de Levi, por meio de Abraão, seu bisavô, ter pago o dízimo a Melquisedeque. Isso mostra a superioridade da ordem de Melquisedeque sobre a levítica.

A lei que já tinha sido citada no verso 5 é mencionada uma segunda vez no verso 11, novamente dentro de um contexto levítico:

De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (pois sob este o povo recebeu a lei), que necessidade havia ainda de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão? (Hebreus 7, 11)

Perceba que em nenhum momento das várias vezes em que o capítulo menciona Abraão dando dízimo para Melquisedeque é dito ou sugerido que Abraão o fez por força de lei. A lei para o dízimo aparece apenas no contexto levítico.

O verso 12 é o ponto de ruptura:

Pois, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei (Hebreus 7, 11-12).

Esta é a terceira vez que a palavra lei aparece neste capítulo. O verso claramente refere-se às leis do sacerdócio levítico, o que obviamente inclui a lei do dízimo citada nos versos 5 e 11. Estas leis são mudadas no momento em que Cristo morre, ressuscita e torna-se sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque.

Este é o momento de ruptura do antigo modelo. Cai o sacerdócio levítico com todas as suas leis e surge um novo modelo encabeçado por Cristo e descrito entre os versos 13-17. Quando lemos que o sistema sacerdotal levítico caiu e, como consequência, suas leis também, conclui-se que a lei de que este capítulo fala trata do dízimo.

O tema principal de Hebreus 7 é a supremacia do novo modelo sacerdotal. A abolição da lei que obrigava a entrega do dízimo aos levitas é apenas citada para ilustrar a falência do antigo modelo sacerdotal. A palavra dízimo é citada sete vezes nos primeiros 9 versos do capítulo. Isso mostra quão forte foi o argumento do dízimo na defesa da tese principal. Fica claro que, quando o modelo levítico é superado, as leis atreladas a ele também sucumbem.

Se alguns ainda duvidam da anulação desta lei, basta continuar a leitura do capítulo.

Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de Deus (Hebreus 7, 18-19).

Que lei é aplicada hoje?

Hoje em dia, não vivemos sob a lei de Moisés. Jesus a aboliu por sua morte (Efésios 2, 14-15). Estamos mortos a essa lei para que possamos estar vivos para Cristo (Romanos 7, 4-7). A lei gravada nas pedras, no Monte Sinai, extinguiu-se e a Nova Aliança permanece (II Coríntios 3, 6-11).

A lei funcionou como um tutor para trazer o povo a Cristo, mas não estamos mais sob suas regras (Gálatas 3, 22-25). Aqueles que desejam estar sob a lei abandonam a liberdade em Cristo e retornam à escravidão (Gálatas 4, 21-31), decaem da graça e separam-se de Jesus (Gálatas 5, 1-6).

Não temos o direito de retornar à guarda do sábado, à circuncisão, aos sacrifícios de animais, às regras especiais sobre roupas, à pena de morte para os filhos rebeldes, ao dízimo e a qualquer outro mandamento da lei de Moisés.

Vivemos sob a autoridade de Cristo. Ele é o mediador desta Nova Aliança (Hebreus 9, 15). Seremos julgados por Suas palavras (João 12, 48-50) e temos a responsabilidade de obedecer a tudo o que Jesus ordena (Mateus 28, 18-20).

Essa, porém, não é uma boa notícia aos avarentos. Primeiro, porque temos que nos dar totalmente a Cristo, que se entregou totalmente por nós (Efésios 5, 2). Segundo, porque os avarentos não entrarão nos céus (I Coríntios 6, 10).

Àqueles que defendem que Cristo ordenou o dízimo em Mateus 23, 23 e Lucas 11, 42, peço que prestem atenção à esta passagem:

Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus (Mateus 5, 20).

Lembrando aos soberbos também:

Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, aavareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem (Marcos 7, 21-23).

***

Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo (I João 2 : 16).

O que está aqui escrito nesta obra não parte somente de meus pensamentos; garimpei as “minas” citadas na Bibliografia com muito esmero até achar pepitas preciosas.

Sei que existe muita gente sincera que, por força da tradição religiosa ou por falta de um conhecimento mais profundo das Sagradas Escrituras, tem estado presa ou tem prendido outras em ensinamentos errôneos.

Sei também que há muita gente mal intencionada, sobre as quais Paulo advertiu Timóteo:

Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja fonte de lucro; aparta-te dos tais (I Timóteo 6, 3-5).

Pedro também advertiu-nos:

E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita. (2 Pedro 2, 1-3)

E o próprio Deus adverte aqueles que em Sua igreja buscam apenas riquezas temporais:

Como dizes: rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas (Apocalipse 3, 17-18).

Espero que o explanado aqui tenha sido, no mínimo, colírio para seus olhos e, na melhor das hipóteses, uma cirurgia de catarata. Tive que ser enfadonho no excesso de textos e argumentos por que sei que existem advogados especialistas em achar brechas na lei, para invalidá-la. Como sei também que hoje existem especialistas em encontrar brechas na graça a fim de anulá-la.

Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.

Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes,seja anátema (Gálatas 1, 6-9).

Não sou teólogo, sou apenas um servo que ama e defende a Bíblia como regra de fé. Jamais quis saber além do que convêm, e estou também disposto a aprender. Não sou o dono da verdade. Cristo o é.

Aprendi com um querido professor, que hoje está na glória: Sempre navegue no meio do rio, pois nas beiradas estão as galhadas. Que possamos achar equilíbrio, pois sem ele tudo desmorona.

Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito (Efésios 2, 20-21)

Apresentei esse estudo a um dos líderes de uma das maiores denominações do país, que disse concordar com tudo. Ele não faria nada, no entanto, para não mexer com a tradição da igreja.

Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas (Marcos 7, 13).

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que portradição recebestes dos vossos pais (I Pedro 1, 18).

Como disse, não sou teólogo, mas um mineirinho contador de causos com o atrevimento de mexer na cumbuca da teologia. Por isso, finalizo a obra com o “causo” a seguir.

IRMÃO JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO

(uma fábula verdadeira)

Era uma vez em uma terra não muito distante,uma pobre viúva e seu único filho,um dia ela o chamou e, disse-lhe:João,acabou o dinheiro e a comida,vá até à cidade e venda nossa vaquinha, pois é o único bem que nos resta,não temos mais nada para sacrificar,só um milagre para nos ajudar.Já fiz de tudo,tomei banho com água do rio Jordão e com sabonete de extrato de arruda,plantei uma roseira ungida,andei pelo corredor de sal grosso,recebi a oração dos 318 duendes(ou seriam doentes)fiz quebra de maldição pensando em não quebrar financeiramente;fiz cura interior para poder “perdoar Deus”e paguei todas as prestações do meu carne de contribuição, “colunas na casa de Deus”e nada adiantou.

João pegou então a vaquinha e foi sacrificar sua última esperança,quando encontra pelo caminho um senhor que tinha a aparência como de anjo e lhe faz a seguinte proposta:tenho aqui 3 feijões mágicos chamados: Pai,Filho e Espírito Santo,com eles você terá a resposta para tudo aquilo de que você precisa(não para aquilo que você deseja)

Estes feijões te darão: amor,gozo,paz,longanimidade,benignidade,bondade,fé,mansidão, temperança ,domínio próprio e acima de tudo perdão e salvação.

Ele voltou todo saltitante de tanta alegria, pois tinha certeza de que havia encontrado a pérola de grande valor,havia encontrado um tesouro escondido.

Não esperava a hora de contar estas boas novas para sua mãe e para todos que encontrasse pelo caminho.

Mas quando chegou à casa,para sua surpresa a notícia trouxe mais tristeza do que satisfação, sua mãe queria uma resposta para esta vida,não para uma vida posterior,já que as pessoas só acreditam no milagre quando vêem o santo.e só querem resolver seus problemas, não o dos outros.

Ela ficou furiosa e gritou com seu filho:Como vou viver como uma Rainha?Como vou viver como filha do Rei?..como vou viver segundo as “profecias “ que recebi da irmã maricotinha?

Como?com um filho burro como este que tenho!!!

Como castigo o trancou dentro do quarto,e o obrigou a assistir a todos estes programas “evangélicos”de testemunhos que passam na televisão,e jogou fora os 3 feijões pela janela.

Mas aquelas sementes caíram em boa terra, que cresceram e fizeram-se árvores,e em seus ramos se aninharam as aves do céu.

Deus dá aos seus enquanto dormem, e João dormia tranqüilo pois sabia que aquelas sementes ele havia conseguido não com sacrifício,mas com FÉ.

Quando acordou viu aquela enorme árvore, que fazia sombra aos cansados e produzia frutas para alimentar os famintos;ele a chamou de GRAÇA,mas quanto mais ele olhava,mais ele duvidava :Como pode ser a GRAÇA tão grande,tão enorme,pensava.

Ele começou então a tentar medir a GRAÇA, começou sua árdua tarefa,escalando,subindo,pois não sabia ele que a GRAÇA só pode ser medida de Cima para baixo,não de baixo para Cima,já que suas raízes não nascem na terra,porem no Céu.

Algo interessante então acontecia: quanto mais ele se esforçava,menos a jornada rendia.

Quanto mais ele descansava,mais a jornada rendia.

Ele resolveu então,se deitar em suas folhas e deixar que seus ramos o levassem ao seu destino.

Quando ele chegou ao topo,ficou maravilhado com tantas coisas belas que encontrou lá: gente de todas as raças,cores e crenças cantavam alegremente,livres de todos os jugos,dores e preocupações de lá debaixo.

As ruas eram de ouro,o mar de cristal,os muros de jaspe e os portões de perolas.

E o sol de JUSTIÇA.

Mas ele observou ao longe algo que destoava daquele lugar, um CASTELO.

Quando de repente se aproxima uma linda mulher(poderia ser uma ANJA,mas ANJO não tem sexo!) e se apresenta:meu nome é AMOR, e pergunta:que aflige seu coração,João???

O que é aquele castelo e quem mora lá???pergunta intrigado por pensar que havia pessoas” ricas e abastadas” ou outra classe social naquele lugar.

Não se preocupe,aquilo que você vê é só Joio(plantado pelo inimigo),aquele castelo se chama “IGREJA” e quem mora lá é um gigante malvado da tribo dos Apostozeus conhecido como “APÓSTOLO” ele pensa que é grande,mas é o menos importante aqui.

Ele pensa que manda,mais se esqueceu que quem manda aqui,é quem serve.

Mais curioso como só ele, João foi então fazer uma visita,para tirar algumas dúvidas.

Mas a caminhada foi muito difícil, pois teve que caminhar toda estrada da RELIGIÃO, percorrer o abismo dos RITUAIS e atravessar as pontes dos DOGMAS e das DOUTRINAS.

Quando chegou percebeu um grande letreiro de néon na porta de entrada, carros importados na garagem,um enorme livraria,onde se encontravam livros que explicavam até quem foi o pai de Deus.

E mais de 1001 fórmulas de como ser bem sucedido lá embaixo.

Mais o que mais chamou sua atenção foi uma enorme torre de um canal de televisão sobre o telhado do castelo.

Entrou e ficou de espreita,quando observou aquele gigante vindo elegantemente vestido num colossal terno Armani, e sentar-se em sua enorme poltrona,que mais parecia um trono.

Chamou seus súditos (ou membrezia, ou como queiram chamar) e pediu(alias,ordenou)tragam a galinha que bota ovos de ouro e a harpa que canta!

Trouxeram a gaiola e a harpa e colocaram em cima da mesa (ou seria altar) João observou que o nome que estava na gaiola na qual a galinha estava presa era DIZÍMO,

E o nome que estava entalhado na harpa cantante era UNÇÃO LEVÍTICA.

O gigante gritava então à galinha: bote um ovo de ouro agora, senão eu te amaldiçôo!e a galinha temerosa botava o ovo,cada vez que ele gritava,ela botava um ovo maior ainda.

Gritava então à Harpa, cante um canto “profético” senão eu te amaldiçôo!

E a harpa punha-se a cantar sem parar, às vezes repetidamente a mesma canção,até o gigante entrar em transe.

João se compadeceu daquele situação e pensou: vou esperar,quando o gigante cochilar,

Vou pegar a galinha dos ovos de ouro chamada DIZÍMO e a Harpa chamada UNÇÃO LEVITÍCA e vou dar no pé.

O gigante estava exausto,pois acabara de participar de uma MARCHA PROFÉTICA,por todo seu território.

Pegou logo no sono.

Como aquele ditado: “a ocasião é que faz o ladrão” se aplicava a todos ali,João,pegou a galinha e a harpa e saiu em disparada,mas ao correr a galinha cacarejou e a harpa soltou um som.

O gigante despertou e gritou: quem roubou minhas fontes de renda?e viu João correndo,e quis correr atrás ,mas como estava com a pança cheia,pois havia comido demais na CEIA DOS OFICIAIS,não conseguia alcançá-lo

João então desceu rapidamente daquela enorme árvore,e gritou para sua mãe:

Traga logo aquele machado afiado o qual eu chamo de VERDADE!

E cortou o tronco da árvore chamada GRAÇA,mais cortou só o suficiente para que depois ela brotasse , crescesse e florescesse novamente.

O gigante despencou lá de cima, do lugar onde “ele” construíra,e espatifou-se como Judas lá embaixo.

Dizimo_capaJoão ficou tão feliz por ter escapado de tamanha tribulação,que libertou a galinha que botava ovos de ouro chamada DIZIMO,mais antes mudou seu nome para COMPAIXÃO,mas ela não quis ir embora,e ficou botando ovos para quem era agora seu verdadeiro dono,e a Harpa chamada UNÇÃO LEVITÍCA,ele permitiu que ela cantasse somente aquilo que estivesse em seu coração,e também mudou seu nome paraADORAÇÃO.

E em gratidão por ter livrado aquele lugar do gigante (mais malandro,do que malvado)os habitantes lhe permitiram que batizasse também aquela cidade.

João então a chamou de LIBERDADE.

Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade? (Gálatas 4, 16)

Bibliografia

Allan, Dennis. Tragam seus dízimos e recebam as bênçãos de Deus: é esta, hoje em dia, a vontade de Deus? www.solascriptura-tt.org/VidaDosCrentes/ComRiquezas

Almeida, Rômulo de. Origem e fim do Dízimo. www.geocities.com

Anderson, Brian. O Dízimo do Velho Testamento x O dadivar do Novo Testamento. http://teophilo.info/

Carrancho, Júlio. A mentira chamada Santo Dízimo. Tradução: Mary Schultze, 2003. www.adventistas.com

Carrancho, Júlio. Está Você Roubando a Deus? Tradução: Mary Schultze, 2003. www.adventistas.com

Fabio, Caio. Uma graça que poucos desejam.www.caiofabio.com

MacArthur Jr., John F. Deus requer que eu dê o dízimo de tudo quanto ganho? www.monergismo.com/

Nascimento, Paulo Gomes do. Abraão: Dizimista modelo? www.adventistas-bereanos.com.br

Nascimento, Paulo Gomes do. Dízimo Que Não é Dízimo! Pode? www.adventistas-bereanos.com.br

Viana, Luciana Rodrigues de A. Dízimo: contribuição da lei ou da graça? www.estudos-biblicos.com

segunda-feira, 8 de março de 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Como é fácil aprender alemão

A língua alemã é fácil, costuma dizer o professor logo na primeira aula. Aqui está um exemplo disso:

Peguemos um livro em alemão que trata dos usos e dos costumes dos nativos da Austrália, os hotentotes (em alemão, Hottentoten). Conta o livro que os cangurus (Beltelratten) são capturados e colocados em jaulas (Kotter), cobertas com uma tela (Lattengitter) para protegê-los das interpéries. Se nessa jaula coberta com tela (Lattengitterkotter) estiver um canguru, chamamos ao conjunto de "jaula coberta de tela com canguru". Ou seja, Lattengitterkotterbeltelratten.

Um dia, os hotentotes prenderam um assassino (Attentaeter), acusado de haver matado uma mãe (Mutter) hotentote (Hottentotenmutter), que tem um filho surdo-mudo (Stottertrottel).

A essa mulher chamamos Hottentotenstottertrottelmutter e a seu assassino Hottentotenstottertrottelmutterattentaeter.

No livro, os nativos o capturaram e, sem ter onde colocá-lo, puseram-no numa jaula de canguru (Beltelrattenlattengitterkotter). A seguir, incidentalmente, o preso escapa. Iniciada a busca, vem um guerreiro hotentote gritando:

- Capturamos o assassino (Attentaeter).
- Qual? - pergunta o chefe aborígene.
- O Lattengitterkotterbeltelrattenattentaeter- comenta o guerreiro.
- Como? O assassino que estava na jaula de cangurus coberta de tela? - diz o chefe dos hotentotes.
- Sim, Hottentotenstottertrottelmutterattentaeter, assassino da mãe do garoto surdo-mudo.
- Ah, demônios - diz o chefe. - Você poderia ter dito desde o início que havia capturado o Hottentotenstottertrottelmutterlattengitterkotterbeltelrattenattentaeter (assassino da mãe do garoto surdo e mudo que estava na jaula de cangurus coberta de tela).


Como se vê no exemplo, a língua alemã é muito, muito fácil!!! ;)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mitra ou Jesus?

Alto relevo de Mitra. Notem a auréola divina, também utilizada nas imagens cristãs.




1. Nasceu de uma virgem numa manjedoura no dia 25 de dezembro e foi venerado por humildes pastores;
2. Manteve-se casto a vida toda e operou vários milagres;
3. Celebrou uma Santa Ceia, junto com 12 discípulos, antes de voltar para a casa do Pai;

4. Ascendeu ao Céu de onde prometeu voltar no fim dos tempos para o Juízo Final;

5. Garantia a vida eterna a quem se batizasse.



Estamos falando de Cristo?


Absolutamente não! Estas são apenas algumas das peculiaridades do deus Mitra, cujo culto, começado na Pérsia não menos de 4000 anos atrás, difundiu-se em todo o território do Império Romano chegando a ser uma das religiões mais bem sucedidas (mais popular que o próprio cristianismo) durante quase quatro séculos seguidos.


Como atestam os antigos textos em sânscrito (1400 a.C.), na religião dos antigos Persas, Mitra (ou Mithras da palavra mihr, sol) era considerado um anjo inferior a Ormuzd, o Ser Supremo, mas superior ao deus Sol. Durante o período védico do hinduísmo Mitra (associado a Varuna) era o deus da criação, da ordem universal e da amizade. Os Magos afirmavam que existia uma Trindade formada por Mitra (o sol espiritual, o Sol Dominus Invictus dos Romanos), Ormuzd e Ahriman. Mitra era onissapiente ( que sabe tudo ), inimigo da escuridade e do mal, deus das vitórias militares. Protetor dos justos, agia como mediador entre a humanidade e o Ser Supremo. Ele encarnou-se para viver entre os homens e enfim morreu para que todos fossem salvos. Os fiéis comemoravam a sua ressurreição durante cerimônias onde eram proferidas as palavras:


"Aquele que não irá comer o meu corpo e beber o meu sangue, assim que ele seja em mim e eu nele, não será salvo"


Mitra era tido como Logos (a Palavra) e a purificação mediante o batismo era necessária para obter a vida eterna. Existiam sete níveis de iniciação, cada um coligado a um planeta: Corax (Mercúrio), Nymphus (Vênus), Miles (Marte), Leo (Júpiter), Perses (Lua), Heliodromos (Sol) e, enfim, Padre (Saturno). Assim como entre os Essênios, os iniciados de grau inferior (os aprendizes: Corax e Nymphus) tinham que servir os iniciados de nível superior: os companheiros (Miles e Leo), os mestres (Perses e Heliodromos) e o venerando Padre.


O mitraísmo que entrou no Império Romano era uma mistura de mitraísmo persa, astrologia babilônica e mistérios gregos. Os primeiros contatos entre o mundo romano e mitraístas persas datam do I século antes de Cristo, como atesta uma epígrafe de Antíoco I de Comagene (69-34 a.C.) encontrada na Ásia Menor. Sabe-se, também, que adoradores de Mitra já existiam em Roma na época de Pompeu (67 a.C.) quando, de acordo com o historiador Plutarco, tropas desse triúnviro ( Magistrado romano incumbido, com mais dois colegas, de uma parte da administração pública. ) descobriram os "rituais secretos" de prisioneiros capturados na Cilícia (a terra de São Paulo). Entretanto os restos mais antigos do culto de Mitra no território do Império Romano foram encontrados na cidade de Carnuntum (próxima do Rio Danúbio). Uma legião romana, a XV Apollinaris, foi enviada de Carnuntum à Ásia para combater contra Judeus e Persas e, quando regressou, construiu um templo consagrado a Mitra.



Em Roma surgiram mais de 700 templos dedicados a esse novo deus e mais ainda na cidade de Óstia. Todavia o culto foi oficialmente aceito no Império só a partir do fim do segundo século e alcançou o apogeu de sua popularidade no terceiro século da nossa era. Da mesma forma que os cristãos, entre os fâmulos ( criado, servidor ) de Mitra não tinha discriminação social mas, enquanto os primeiros pertenciam principalmente à pequena burguesia urbana, o mitraísmo era essencialmente difuso entre três classes: os mercantes, os escravos e os militares. Como os soldados eram destacados ao longo das compridas fronteiras imperiais, restos desse antigo culto foram encontrados em abundância onde existiam guarnições e fortes romanos.


Caverna onde os seguidores de Mitra faziam seus cultos religiosos, assim como os cristãos dos primeiros séculos.




O culto de Mitra era uma religião misteriosa e simbólica; as mulheres ficavam excluídas das formas exteriores e regulares da liturgia. Muitos elementos de sua organização lembram os da moderna Maçonaria. Os templos subterrâneos reproduziam o firmamento enquanto a arte mitraísta insistia na representação de corpos celestes (o zodíaco, os planetas, o sol, a lua e as estrelas) como também da serpente, do cão, do corvo, do escorpião ( todas constelações do hemisfério boreal) e da árvore. Sempre foi uma religião privada que jamais recebeu verbas públicas, sendo os templos de Mitra singelos e despidos daquela ostentação que caracterizava as basílicas paleo-cristãs. Se por um lado esse culto, devido sua grande tolerância em relação aos outros credos, nunca foi perseguido, por outro lado nunca gozou da propaganda resultante de persecuções recorrentes.


A história de Mitra principia com o Demiurgo (Ahriman) oprimindo a humanidade. Apiedado, Mitra encarnou-se no dia 25 de dezembro, data que na antiguidade correspondia ao solstício de inverno. Ele nasceu de uma rocha e pregou numa caverna (também Jesus veio ao mundo numa gruta), porém, segundo a mitologia persa, Mitra fora gerado por uma virgem denominada "Mãe de Deus". Durante sua vida terrena Mitra manteve-se casto, pregou a irmandade universal e operou inúmeros milagres. Outrossim, o acontecimento mais marcante foi a luta simbólica de Mitra contra o touro sagrado (ou touro equinocial) que ele derrotou e sacrificou (tauroctonia) em prol da humanidade. Todavia, como nos antigos textos persas o próprio Mitra era o touro, a tauroctonia adquire o dúplice significado de vitória sobre o mundo terreno e de auto-sacrifício da divindade a fim de redimir o gênero humano de seus pecados.


Em época romana o touro podia ser trocado por um carneiro, sendo assim este animal o objeto do sacrifício, conforme à tradição judaica e cristã. O apologista cristão Tertuliano afirma que os sequazes de Mitra eram batizados com borrifos de sangue do touro (ou do carneiro) e, finalmente, purificados com água. No sétimo século a Igreja católica tentou, sem êxito, de suprimir a representação de Cristo como carneiro, justamente por ser esta uma imagem de origem pagã.


São Justino Mártir atesta que existia uma eucaristia de Mitra onde os fiéis compartilhavam pequenos pães redondos e água consagrada simbolizando, respectivamente, a carne e o sangue do deus encarnado. Este ritual, que ocorria aos domingos (dia da semana consagrado ao Sol), era chamado Myazda e correspondia exatamente à missa dos cristãos. Mitra não morria fisicamente, mas apenas simbolicamente e, como divindade solar, ressuscitava todo ano. Cumprida a missão terrena, ele jantava pela derradeira vez com seus discípulos e subia ao Céu. Seus adeptos tinham que jejuar freqüentemente e, após terem recebido um marco na testa (no nível Miles, soldados), passavam a ser chamados "Soldados de Mitra".


No início do IV século o imperador Constantino apoiou-se às religiões emergentes: o cristianismo e os cultos solares, ou seja o de Apolo (popular entre os Celtas) e o de Mitra, extremamente difuso na parte Ocidental do Império onde, ao contrário, os cristãos ainda eram minora. De forma alguma Constantino pode ser considerado um soberano cristão pois, como os demais imperadores, nunca renunciou ao título de pontifex maximus. Ademais, ele privilegiou os pagãos nos cargos administrativos e a casa da moeda romana continuou a cunhar moedas mostrando símbolos pagãos. O mitraísmo sumiu oficialmente em 377 d.C., data em que o imperador cristão Teodósio proibiu todas as religiões diferentes do cristianismo. Pequenos grupos de adeptos continuaram secretamente a prática do culto até o V século quando os bispos desencadearam ásperas perseguições contra os cultos solares.


Surpreendentemente a própria Igreija cristã incorporou boa parte das práticas mitraístas como a liturgia do batismo, da crisma, da eucaristia, da páscoa, e a utilização do incenso, das velas, dos sinos, etc. Até as vestimentas usadas pelo clero católico eram extremamente parecidas com as dos sacerdotes de Mitra, como a tiara e a mitra, barretes usados pelos antigos persas. Se não tivesse sido por uma extravagância do destino, observam divertidos os escritores Knight e Lomas, as modernas famílias devotas iriam para a missa dominical tendo os vidros de seus carros enfeitados por adesivos com a escrita "Mitra te ama".


A expressão cristã "Príncipe das Trevas" já fora usada tanto pelos Essênios quanto pelos adoradores de Mitra. Santo Agostino chegou a admitir algum tipo de fusão entre as duas religiões quando reconheceu que os sacerdotes de Mitra adoravam o mesmo Deus em que ele acreditava. Em outras palavras, para ele Mitra e Jesus eram a mesma pessoa! Os cristãos sempre afirmaram que os adeptos de Mitra copiaram seus ritos, mas já vimos que, na verdade, esse culto solar chegou em Roma pelo menos um século antes dos primeiros apóstolos. Ademais, a imagem da tauroctonia é bem mais antiga que Cristo pois o patrimônio figurativo da glíptica (Arte de gravura em pedras preciosas.)do Império de Akkad (2370-2120 a.C.) documenta cenas de luta entre um deus solar e um touro. No milênio sucessivo, durante o reinado de Shuppiluliuma (cerca 1500 a.C.), num tratado com um soberano hitita é invocada a proteção de duas divindades solares: Mitra e Varuna.


Com efeito, somente entre os anos 4000-2000 a.C. o sol nascia, aos equinócios ( Ponto da órbita da Terra em que se registra uma igual duração do dia e da noite, o que sucede nos dias 21 de março e 23 de setembro. ), na constelação do Touro e só naquela época as constelações do Cão Menor, da Hidra (a serpente), do Corvo e do Escorpião se encontravam no Equador celeste. Ocasionalmente um leão e uma taça apareciam na tauroctonia: simbolicamente representavam as constelações do Leão e do Aquário que só se achavam em conjunção com o Sol durante os solstícios na Idade do Touro. Os antigos astrônomos da Babilónia fizeram precisas observações astronômicas chegando a descobrir que, ano após ano, o sol não despontava sempre no mesmo canto mas o plano equinocial se deslocava lentamente com a "velocidade" de uma constelação em cada 2160 anos. Conseqüentemente o plano equinocial percorre todo o zodíaco em 25.900 anos, um movimento cíclico conhecido como precessão dos equinócios.


Nesse sentido a cena de Mitra (representado pela constelação de Perseu) que mata o touro pode ser interpretada como a rotação da abóbada celeste em direção da constelação de Áries, sucessiva à constelação do Touro. Mitra, o sol espiritual que se encontra além da esfera das estrelas fixas, seria portanto a força cósmica capaz de governar o ciclo das estações: a eterna seqüência de outono-primavera, de luz - obscuridão, na espera da vitória final da Luz sobre as trevas, da Vida sobre a morte.



Bibliografia


Cumont F. "The Mysteries of Mithra", Dover Pubns, ISBN: 0486203239, (2001).


Rittatore Vonwiller F. et al. " Preistoria e Vicino Oriente Antico", UTET, Torino (1969).


Ulansey D. "The Origins of the Mithraic Mysteries: Cosmology and Salvation in the Ancient World", Oxford University Press, Oxford (1991).


Brown P. "The World of the Late Antiquity", Thames & Hudson Ltd., London (1971).


Levi M.A. "L' Impero Romano", UTET, Torino (1971)


Lavigny S. "Decadenza dell' Impero Pagano", Ferni Editore, Ginevra (1973).


Knight C. & Lomas R. "The Hiram Key", ISBN: 8804421436, (1996).


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

VOTE NO HUGO!

Hoje de manhã alguém bateu à minha porta. Era um casal bem vestido e arrumado. O homem falou primeiro, e disse

João: Olá! Eu sou João, e esta é a Maria.

Maria: Olá! Gostaríamos de convidá-lo a votar no Hugo connosco.

Eu: Como assim? O que é isso? Quem é Hugo, e porque é que vocês querem que eu vote nele? Nem é dia de eleição hoje.

João: Se votar no Hugo, ele dar-lhe-á um milhão de dólares, e se não, ele espanca-o.

Eu: Mas o que é isso? Extorsão da máfia?

João: Hugo é um multibilionário filantropo. Hugo construiu esta cidade. A cidade é dele. Ele pode fazer o que ele quiser, e ele quer dar-lhe um milhão de dólares, mas isso só é possível se você votar nele.

Eu: Mas isso não faz o menor sentido. Se o Hugo construiu a cidade, é dono dela e pode fazer o que quiser, então por que precisa ser eleito? E por que ele...

Maria: Quem é você para questionar o presente do Hugo? Você não quer o milhão de dólares? Não vale a pena por votar nele uma vez só?

Eu: Bom, talvez, se mesmo a sério, mas...

João: Então venha conosco votar no Hugo.

Eu: Vocês já votaram no Hugo?

Maria: Ah, claro, e...

Eu: E vocês já receberam o milhão de dólares?

João: Bom, na verdade não. Você só recebe o dinheiro depois de sair da cidade.

Eu: Então porque é que vocês não saem?

Maria: Você só sai quando o Hugo deixar, ou você não leva o dinheiro, e ele espanca-o.

Eu: Vocês conhecem alguém que tenha votado no Hugo, saído da cidade e ganho o dinheiro?

João: Minha mãe votou no Hugo por anos. Ela saiu da cidade ano passado, e tenho certeza de que ela ganhou o dinheiro.

Eu: Você não falou com ela depois disso?

João: Claro que não, o Hugo não deixa.

Eu: Então porque é que acha que ele vai dar-lhe o dinheiro se nunca falou com alguém que tivesse conseguido o dinheiro?

Maria: Bom, ele dá-lhe um pouco antes de você ir embora. Pode ser um aumento de salário, pode ser um pequeno prémio de lotaria, pode ser que você ache uma nota de cinquenta na rua.

Eu: E o que tem isso a ver com o Hugo?

João: O Hugo tem uns «contatos».

Eu: Sinto muito, mas isso parece-me muito estranho...

João: Mas é um milhão de dólares, você vai arriscar? E lembre-se, se você não votar no Hugo, ele espanca-o.

Eu: Talvez se eu pudesse ver o Hugo, falar com ele, ajustar os pormenores diretamente com ele...

Maria: Ninguém vê o Hugo, ninguém fala com o Hugo.

Eu: Então como é que vocês votam nele?

João: Às vezes nós fechamos os olhos e votamos, pensando no Hugo. Às vezes votamos no Carlos, e ele conta ao Hugo.

Eu: Quem é o Carlos?

Maria: Um amigo nosso. Foi ele que nos ensinou a votar no Hugo. A gente só precisou de o levar a jantar algumas vezes.

Eu: E vocês simplesmente acreditaram no que ele disse, quando ele contou que existia um Hugo, e que o Hugo queria que vocês votassem nele, e que o Hugo daria uma recompensa?

João: Claro que não! Carlos trouxe uma carta que o Hugo lhe mandou anos atrás, explicando tudo. Tenho uma cópia aqui, veja você mesmo. João entregou-me uma fotocópia de uma carta com o cabeçalho «Do punho de Carlos». Havia onze pontos ali:

1. Vote no Hugo e ele dar-lhe-á um milhão de dólares quando você sair da cidade.
2. Beba álcool com moderação.
3. Espanque quem não for como você.
4. Coma bem.
5. O próprio Hugo ditou esta lista.
6. A lua é feita de queijo verde.
7. Tudo que o Hugo diz está certo.
8. Lave as mãos depois de ir à casa de banho.
9. Não beba.
10. Só coma salsicha no pão, e sem condimentos.
11. Vote no Hugo, ou ele espanca-o.

Eu: Parece que isso foi escrito no bloco do Carlos.

Maria: Hugo não tinha papel.

Eu: Tenho um palpite que se fôssemos conferir, descobriríamos que essa letra é do Carlos.

João: Claro que é, o Hugo ditou.

Eu: Pensei que vocês tinham dito que ninguém vê o Hugo.

Maria: Agora não, mas tempos atrás ele falava com algumas pessoas.

Eu: Pensei que vocês tinham dito que ele era um filantropo. Como é que um filantropo bate nas pessoas só porque elas são diferentes?

Maria: É o desejo de Hugo, e o Hugo está sempre certo.

Eu: Como sabe?

Maria: O item 7 diz: «Tudo que o Hugo diz está certo». Para mim isso é suficiente.

Eu: Talvez o seu amigo Carlos tenha inventado isso tudo.

João: De jeito nenhum! O item 5 diz: «O próprio Hugo ditou esta carta». Além disso, o item 2 diz «beba álcool com moderação», o item 4 diz «coma bem», e o item 8 diz «lave as mãos depois de ir à casa de banho». Toda a gente sabe que isso está certo, então o resto deve ser verdade também.

Eu: Mas o item 9 diz «não beba», o que não bate com o item 2. E o item 6 diz que «a Lua é feita de queijo verde», o que está simplesmente errado.

João: Não há contradição entre 9 e 2, 9 só esclarece 2. E quanto ao 6, você nunca esteve na Lua, então não pode ter certeza.

Eu: A ciência já estabeleceu muito bem que a Lua é feita de rochas...

Maria: Mas eles não sabem se as rochas vieram da Terra ou do espaço, então poderiam muito bem ser queijo verde.

Eu: Não sou um perito, mas acho que a ideia é que dois ou mais corpos de bastante massa podem ter colidido durante a formação do sistema solar para criar o sistema Terra-Lua. Mas não saber exatamente como a Lua foi formada não tem nada a ver com ela ser feita de queijo.

João: Ah! Você acabou de admitir que os cientistas não podem ter certeza, mas nós sabemos que o Hugo está sempre certo!

Eu: Sabemos?

Maria: Claro, o item 5 diz isso.

Eu: Você disse que o Hugo está sempre certo porque a lista diz, e a lista está certa porque o Hugo ditou, e sabemos que o Hugo ditou porque a lista diz. Isso é lógica circular, é a mesma coisa que dizer que «o Hugo está certo porque ele diz que está certo».

João: AGORA você entende! É tão bom ver alguém entender a forma de pensar do Hugo!

Eu: Mas... ah, deixem estar... E que história é essa com as salsichas?

João (enquanto Maria enrubesce): É um esclarecimento do item 4. Salsicha, só no pão, sem condimentos. É a maneira do Hugo. Qualquer coisa diferente disso é errado.

Eu: Mas então pode comer hamburguer sem pão? E bratwürst?

João: Espere aí, espere aí! Não vamos deixar as coisas mais complicadas do que elas são. É melhor deixar esses pormenores para os peritos profissionais no Hugo e suas regras.

Eu: E se não tiver pão?

João: Sem pão, nada de salsicha. Salsicha sem pão é errado.

Eu: Sem molho? Sem mostarda?

João (Gritando, enquanto Maria parece chocada): Não precisa falar assim! Condimentos de todos os tipos são errados!

Eu: Então uma pilha enorme de repolho azedo com umas salsichas picadas em cima, nem pensar?

Maria (enfiando os dedos nas orelhas): Eu não estou escutando!! La la la, la la, la la la.

João: Mas que nojento! Só um pervertido comeria isso...

Eu: Mas é bom! Eu como sempre!!

João (amparando Maria, que desmaia): Se eu soubesse que você era um desses, não teria desperdiçado meu tempo. Quando o Hugo o espancar, eu vou estar lá, contando meu dinheiro e rindo. Eu vou votar nele por você, seu comedor-de-salsicha-cortada-com-repolho! E assim João arrastou Maria para o carro, e foram embora.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Todos contra a Igreja Universal - e outras formas de abuso também






11 – Os dízimos e as ofertas são tão sagrados e tão santos quanto a Palavra de Deus. Os dízimos significam fidelidade, e as ofertas, o amor do servo para com o Senhor. Não se pode dissociar os dízimos e as ofertas, o amor do servo para com o Senhor Jesus, uma vez que eles significam, na verdade, o sangue daqueles que foram salvos em favor daqueles que precisam ser salvos.

http://www.igrejauniversal.org.br/doutrinas.jsp



EDIR MACEDO ENSINANDO A ROUBAR DOS FIÉIS

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O fanatismo religioso entre outros - Breve ensaio

"O diabo empalidece comparado a quem dispõe de uma única verdade" (Emil Cioran)


"...todos os crentes parecem escandalosos e indiscretos: procura evitá-los" (Nietzsche)


Em nossa época, supostamente dominada pela ciência e pela tecnologia, o fanatismo parece ser uma reação made in recalcado do inconsciente da humanidade. Fanatismo, vem do latim fanaticus, quer dizer "o que pertence a um templo", fanum. O indivíduo fanático ocupa o lugar de escravo diante do senhor absoluto, que, pode ser uma divindade, um líder mundano, uma causa suprema ou uma fé cega. O fanatismo é alimentado por um sistema de crenças absolutas e irracionais que visa servir [1] à um ser poderoso empenhado na luta contra o Mal. Ou seja, o fanático acha que pode exorcizar pessoas e coisas supostamente possuídas pelo demônio[2], "combater as forças do Mal" ou "salvar a humanidade" do caos.

Tendo origem no dogma religioso, o fanatismo não se restringe a esse campo único; existe fanatismo por uma raça, um time de futebol, por um partido político, sobretudo por ideologias revolucionárias quando extrapolam a dimensão racional, sentindo-se guiada pela "fantasia da escolha divina". Foi fanatismo religioso que fez muitos seguirem Jin Jones (Templo do Povo), Asahara (Verdade suprema), David Koresh (Ramo davidiano), Jo Dimambro (Templo Solar) e tantos outros místicos ou charlatães que terminaram causando tragédias coletivas, noticiadas no mundo todo. A história conheceu também os histerismos coletivos da "caça as bruxas", a perseguição aos negros, índios, comunistas, homossexuais, prostitutas. O movimento da Jihad islâmica contra os "infiéis do ocidente" e a "guerra aos terroristas" do ocidente cristão, demonstram que o fanatismo está vivo e atuante em nossa época supostamente "científica" e "tecnológica". Precisamos admitir que, a história da humanidade é também a história dos vários fanatismos dominando grupos humanos, sempre com conseqüências trágicas. Esse pedaço da história renegado nos causa vergonha, medo e sinalizam alertas para possíveis efeitos negativos no rumo da civilização.

Como dissemos, o fanatismo atua para além do efeito religioso, mas não extrapola ao campo ideológico como um todo. Há fanatismo entre crentes de todo o tipo, do menos ao mais irracional. Mas, não existe fanatismo racional, em que pese o fato de um certo tipo de razão (instrumental, cínica, etc) também ter cometidos os seus desatinos e crimes[3]. Assim, para o fanático religioso, não basta adorar um Deus visto como Senhor absoluto, é necessário ser soldado dele na terra, lutar pela causa superior, pregar, exorcizar, forçar os "infiéis" ou "divergentes" à conversão absoluta, à qualquer preço. O fanático está sempre disposto a dar provas do quanto sua causa suprema vale mais do que as próprias vidas: dele, de sua família ou mesmo de toda a humanidade. Ele mata por uma idéia e igualmente morre por ela.


Os sintomas do fanatismo


Os sintomas do fanatismo, em grupo, são: orações, privações, peregrinações, jejum, discursos monológicos e martírios que podem terminar com o sacrifício da própria vida visando salvar o mundo das "trevas" ou do que ele entende ser "o mal"[4].
O fanático não fala, faz discursos; é portador de discursos[5] prontos cujo efeito é a pregação de fundo religioso ou a inculcação política de idéias que poderá vir a se tornar ato agressivo ou violento, tomado sempre como revelação da "ira de Deus" ou "a inevitável marcha da história" ou, ainda, a suposta "superioridade de uns sobre os demais". Faz discursos e não fala, porque enquanto a fala é assumida pelo sujeito disposto ao exercício do diálogo, da dialética, do discernimento da verdade, os discursos - especialmente o discurso fanático - fazem sumir os sujeitos para que todos virem meros objetos de um desejo divinizado; servir ao desejo divino e à produção da repetição de algo já pronto, onde o retorno do recalcado do sujeito faz do Eu (ego) um porta-voz de um sistema de crenças moralistas carregado de ódio em relação ao suposto inimigo ou adversário que precisa ser destruído para reinar o Bem.

Os textos sagrados, tomados literalmente, fornecem a sustentação "teórica" do discurso fundamentalista religioso; com ele, o indivíduo acredita, a priori, estar de posse de toda a verdade e por isso não se dá ao trabalho de levantar possíveis dúvidas, como confrontar com outro ponto de vista, ou desvelar outro sentido de interpretação, ou ainda, contextualizá-lo, etc.

O fanático tem certeza e isso lhe basta. Creio porque é absurdo, já dizia Tertuliano. Certeza para ele é igual a verdade. (Segundo Popper, no campo científico, a certeza nada vale porque é "raramente objetiva: geralmente não passa de um forte sentimento de confiança, ou convicção, embora baseada em conhecimento insuficiente", já a verdade tem estatuto de objetividade, na medida em que "consiste na correspondência aos factos", na possibilidade da discussão racional com sentido de comprovação. (Popper, 1988, p. 48).


O problema da religião não é a paixão "fé", mas a inquestionalidade de seu método. O método de qualquer religião traz uma certeza divulgada em forma de monólogo, jamais de diálogo ou debate de idéias. O pastor, padre, rabino, ou qualquer pregador de rua, vivem o circuito repetitivo do monólogo da pregação; acreditam que "vale tudo" para difundir a "verdade única" que o tocou e o transformou para sempre! O estilo fanático usa e abusa do discurso monológico delirante, declarações, comunicados, que jamais se voltam para escuta ou o diálogo, exercício esse que faria emergir a verdade - não a "certeza"[6].


Psicopatologia do fanatismo


Do ponto de vista psicopatológico, todo fanatismo parece ter relação com a fuga da realidade. A crença cega ou irracional parece loucura quando se manifesta em momentos ou situações específicas, porém se sua inteligência não está afetada, o fanático aparentemente é um sujeito normal. No entanto, torna-se um ser potencialmente explosivo, sobretudo se o fanatismo se combinar com uma inteligência tecnologicamente preparada. Fanático inteligente é um perigo para a civilização. O terrorismo, por exemplo, que atua com a única meta de destruir inimigos[7]aleatórios é realizado por indivíduos fanáticos cuja inteligência é instrumentada apenas para essa finalidade. No terrorismo é uma das expressões do fanatismo combinado com uma inteligência tecnológico, mas totalmente incapaz de exercitá-la por meios mais racionais, políticos e legais. Para o terrorismo sustentado no fanatismo, os inocentes devem pagar pelos inimigos; a destruição deve ser a única linguagem possível e a construção de um novo projeto político-econômico, não está em questão, porque a realidade no seu todo é forcluída[8].


O fanatismo parece surgir de uma estrutura psicótica. O fato do sujeito se ver como o único que está no lugar de certeza absoluta, de "ter sido escolhido por Deus para uma missão "x", já constitui sintoma suficiente para muitos psiquiatras diagnosticarem aí uma loucura ou psicose. Mas, seguindo o raciocínio de Freud, vemos que "aquilo que o psicótico paranóico vivencia na própria pele, o parafrênico experiência na pele do outro [9] , ou seja, somos levados a supor que o fanatismo está mais para a parafrenia que para a paranóia. Hitler, antes considerado um paranóico, hoje é mais aceito enquanto parafrênico [10] , pois seus atos indicam sua idéia fixa pela supremacia da raça ariana e a eliminação dos "impuros"; mais ainda, o gozo psíquico do parafrênico não se limita "ser olhado" ou "ser perseguido", tal como acontece com paranóicos, mas sim se desenvolve "uma ação inteligente de perseguição e extermínio de milhares de seres humanos", donde extrai um quantum de gozo sádico. Portanto, deve existir membros de um grupo de fanáticos paranóicos, mas certamente o pior fanático é o determinado pela parafrenia, pois visa de fato destruir em atos calculados "os impuros", "os infiéis", enfim, todos os que não concordam com ele.


Hitler e seus comparsas usaram de inteligência para inventar e administrar a chamada "solução final" contra os judeus, porém, antes de ser este um fato criminoso era uma exigência interna de seu próprio psiquismo. Na parafrenia vigora a compulsão de observar e atuar o ser do Outro como alimentador de seu delírio interno. O parafrênico "faz acting out em nome de..." e jamais assume seu ato criminoso, pondo a responsabilidade em alguém que para ele encarna o "mal". Para sua "lógica", as vítimas são os únicos responsáveis. É curioso observar que ontem os judeus se agarravam ao sacrifício do holocausto [11] como modo de explicação da tragédia em que eram vítimas, mas hoje a ultra direita israelense, no poder, parece resgatar dos nazistas essa terrível idéia da "solução final" contra os palestinos. "Quem lutou muito contra dragão, também vira dragão", diz um antigo provérbio chinês.

Os fanáticos pela "solução final" dos judeus, no Julgamento de Nuremberg, não se consideravam culpados ou com remorsos pelo extermínio coletivo. Goering, considerado o segundo homem depois de Hitler, tentou se defender segundo o princípio de sua lealdade e fidelidade para com o Führer; "cumprira ordens" e "nenhuma vez ele se considerou um criminoso [12]. Eis a "razão cínica": a culpa pelo genocídio era dos próprios judeus gananciosos por dinheiro, não de seus carrascos nazistas. Os israelenses da "era Sharon" também não se responsabilizam pelos atos criminosos de Israel contra os palestinos generalizados como terroristas.


Se no fanatismo o sujeito inexiste para dar lugar ao Senhor absoluto e maravilhoso, então faz sentido não assumir a sua própria responsabilidade, porque ela é "obra do Senhor" [13] , "o Senhor quer que eu faça", "foi a mão de Allah" [14] , etc. São mais do que frases, são efeitos de uma poderosa "fantasia da eleição divina" [sic!] onde o sujeito é nadificado para dar lugar ao discurso delirante da salvação messiânica [15]. O mundo fanático foi dividido entre "os eleitos" e os que continuam nas trevas e que precisam ser salvos ou serem combatidos por todos os meios, pois "são forças do mal".


O famoso caso Schreber, analisado por Freud [16], que acreditava ter recebido um chamado de Deus para salvar o mundo, que lhe era transmitido por uma linguagem particular - só entre ele e Deus - , tornou-se o modelo psicanalítico para se pensar a relação loucura e fanatismo. Como já dissemos, o fanatismo é sustentado por sistema de crença delirante, psicótico, dominado por uma autoridade absoluta e invisível (Deus ou a causa da "supremacia da raça ariana", ou a "missão do povo judeu", ou "a Jihad islâmica", "ou salvar o mundo do diabo", enfim, um significante posto no lugar "absoluto" que comanda a ação do grupo fanático [17],etc). Segundo a psicanálise, isso poderia apontar para a hipótese de um "complexo paterno" de origem.


A leitura lacaniana fala de "um buraco no Nome-do-Pai, que produz no sujeito um buraco correspondente, no lugar da significação fálica, o que provoca nele, quando é confrontado com essa significação fálica, a mais completa confusão. É isso que desencadeia a psicose de Schreber, no momento em que ele próprio é chamado a ocupar uma função simbólica de autoridade, situação à qual só teria podido reagir com manifestações alucinatórias agudas, às quais a construção de seu delírio iria pouco a pouco fornecer uma solução, constituindo, no lugar da metáfora paterna fracassada, uma "metáfora delirante", destinada a dar um sentido àquilo que, para ele, "era totalmente desprovido de sentido"[18].


Os primeiros sintomas de fanatismo e suas estratégias de sedução


O início de qualquer fanatismo consiste, em primeiro, reconhecermos um sujeito ou grupo estarem convictos, quando julgam de posse de uma certeza que recusa o teste da realidade. Nietzsche dizia que "as convicções são piores inimigas da verdade do que as mentiras", porque quem mente sabe que está mentindo, mas quem está convicto não se dá conta do seu engano. "O convicto sempre pensa que sua bobeira é sabedoria" [19]. Até no campo científico, há cientistas correndo o perigo de tornar-se convictos de suas teses. Edgar Morin analisa que quando algumas idéias se tornam supervalorizadas e adquirem um caráter de grandiosidade e absolutismo tendem a levar os seus sujeitos a abdicarem de seu raciocínio crítico e se tornarem meros objetos dessas idéias. Indivíduos assim submetidos a tão grandes idéias, fazem qualquer coisa para "salva-las" de um possível furo de morte; elas funcionam como muleta existencial. Isso acontece principalmente no meio religioso, mas também pode ocorrer nos meios político, filosófico e científico.


O segundo sinal do fanatismo é quando alguém quer impor a todos de modo tirânico a "verdade" única extraída de sua inspiração ou crença absoluta. Pretende assim a uniformização via linguagem, através de aparência física, rituais e slogans do tipo: "O único Deus é Allah", "só Cristo salva", "Jesus Cristo é o Senhor", "somos o Bem contra o Mal", "Em nome do Senhor Jesus eu ordeno..." São expressões de caráter estereotipado, sustentado por uma "estrutura de alienação do saber" [20], onde o discurso passa a falar sozinho, é uma resposta que está no gatilho, pronta para qualquer emergência que o sujeito não quer pensar. Observem o caráter tirânico, narcisista e excludente dessas afirmativas. Todos possuem uma visão que nega outros modos de crer e pensar. O mesmo acontece nos auto-elogios das pessoas de raça branca e o desprezo pelas outras como proclamam os fanáticos da extrema direita, nas ações violentas de uma torcida sobre a outra, todos, sinalizam que o indivíduo se rende ao grupo e este "a causa". Os recém convertidos de qualquer seita religiosa ou política estão sempre convictos que, finalmente, contemplam a verdade e essa tem que ser imposta a todos, custe o que custar.


O terceiro indicativo de fanatismo, já dissemos, é quando uma pessoa passa a colocar uma causa suprema (podendo esta ser justa ou delirante) acima da vida dela e dos outros.


Quarto, quando um indivíduo e/ou grupo se isolam da convivência familiar e social e adotam um modo de vida narcísico [21] (no igual modo de vestir, de cortar ou não cortar o cabelo, no jeito de falar, nas regras de comer, na ritualística, etc), enfim, quando uniformizam seu discurso, gestos, postura, atitudes em geral e punem os que se recusam a seguir as regras impostas. Entrar para um grupo de fanáticos implica em renunciar: pai, mãe, os filhos, os amigos, o lugar onde viveu, o trabalho, enfim, os membros são persuadidos a matarem os vestígios simbólicos da vida anterior para fazer renascer a vida em outra base moral e de fé.


Quinto, quando o indivíduo e/ou grupo perdem o bom-senso na lógica da comunicação e nas ações do cotidiano. O discurso passa a ser repetitivo e estranho à vida comum.


O sexto indício de fanatismo é quando se perde o sentido de respeito e humanidade para com os diferentes, em nome de uma causa transcendente.


O psicólogo francês, J-M. Abgrael, resume o método de doutrinação fanática em 3 etapas: 1o) sedução das pessoas para a "causa"; 2o) destruição da antiga personalidade, eliminação dos elos familiares, sociais e profissionais e 3o) construção de uma nova personalidade "renascida" ou "renovada", de acordo com o modelo e as regras da seita. Geralmente essa passagem da vida normal para a vida "renovada", há um ritual, algum tipo de batismo, onde se inicia a adoção de um novo nome, novos hábitos, apresentação de novas "famílias". Sentir-se incluso num grupo "de irmãos" ou "de luta pela causa" "é como estar apaixonado; surge uma sensação maravilhosa, tudo passa a fazer sentido na vida, a pessoa se sente acolhida e imensamente alegre". O indivíduo passa a se ver se modo especial, diferente dos demais para realizar a missão elevada; se vê inundado por um sentimento grandioso que Freud chama de "sentimento oceânico". Imagine um indivíduo desesperado, desgarrado de seu grupo social, sem uma forte identidade psicossocial cuja vida perdeu o sentido, ao ser acolhido em um grupo fanático, recebe mensagens confortadoras, do tipo: "nós amamos você", "você é muito importante para o projeto de Deus", "você faz parte de nossa vida", "Deus te ama", etc Diz P. Demo (2001) "o sentimento de ser amado, move o entusiasmo mais do de qualquer coisa".


Faz parte da estratégia para atrair pessoas para novas seitas e igrejas, investir em programas produzidos para solitários que sofrem insônia e depressão nas madrugadas. Os desesperados sentem-se acolhidos com tais palavras mágicas e facilmente se sentem inclusos e maravilhados pela ilusão de nova vida e sentimento extremo de felicidade, numa igreja em que o fanatismo é o seu ponto cego.


Todo fanático é intolerante.


O fanatismo é a intolerância extrema para com os diferentes. Um evangélico fanático é incapaz de diálogo e respeito para com um católico ou um budista. Um fanático de direita não quer diálogo com os de esquerda. Organizações como a Ku Klux Klan são intolerantes igualmente com negros adultos, mulheres e crianças. Por isso se diz que há em cada fanático um fascista camuflado, pronto para emergir em atos de exclusão e eliminação.


O semiólogo e filósofo italiano, Umberto Eco, reconhece que o protofascismo está presente nos movimentos fanáticos [22]. No campo político, não importa auto denominar-se de "esquerda" ou de "direita" pode existir um protofascismo. No fundo os atos terroristas são produzidos e sustentados por fanatismos de inspiração místico-fascista [23] incapazes de diálogo ou argumento racional que esclarece sua causa objetiva. Não é sem sentido que os atos terroristas deixaram de dizer algo pela palavra e passaram a ser apenas o ato, o acting out. S. P. Rouanet diz que "os terroristas são agentes de uma ideologia religiosa extrema direita ... que funciona como ópio do povo..." (A coroa e a estrela, FSP, Mais!, 18/11/01)


O fascismo, tanto o de Estado dos fundamentalistas religiosos, como o que está pulverizado nos atos do cotidiano das relações humanas, é fanático porque desrespeita, desconsidera, é intolerante quanto ao modo de ser, pensar e agir do outro [24], é tradicionalista-fundamentalista. Enquanto o fascista "quer o poder pelo poder", há o fanático "autêntico" que anseia dominar o mundo com sua crença, e o "fanático terrorista" que "deseja apenas destruir a estrutura de sustentação do inimigo". Mas, ambos, o fascismo e o fanatismo não são compatíveis com a democracia. Ambos pregam intolerância multirreligiosa, a intolerância multicultural e multirracial e usam o espaço de liberdade democrática para espalhar o seu ódio e sua crença.


O sentimento que no fundo sustenta o fanatismo e o fascismo não é a fé, nem o amor [Eros], mas o ódio [Thanatos] e a intolerância. O desejo do fanático "autêntico" é dominar o mundo com seu sistema de crença cheio de certeza. No plano psíquico, o lugar do recalque torna-se depósito de ódio e desejo de eliminar todos os que atrapalham o seu ideal de sociedade. Certa dose de paciência doutrinada o faz esperar-agindo para que a "idade de ouro puro" possa um dia acontecer.


São tão fanáticos os terroristas-suicidas muçulmanos como os fundamentalistas cristãos norte-americanos que atacam clínicas de abortos, perseguem homossexuais, proíbem o ensino da teoria evolucionista de Darwin, obrigando aos professores ensinarem a doutrina criacionista tal como está na Bíblia, ou ainda, os protestantes da Irlanda do Norte que atacam crianças católicas ou os bascos que querem ser um país independente a qualquer preço, por meio do terror.


Alguns personagens "messiânicos" de nosso tempo, como Hitler, Idi Amin, Reagan, G. W. Bush, Sharon, os grupos dos martírios suicidas do Oriente Médio, entre outros, tem algo em comum: cada um se sente o escolhido para cumprir uma especial missão [25]. Hitler discursou que "as lágrimas da guerra preparariam as colheitas do mundo futuro". G. Bush, na sua ânsia de guerra contra o ditador S. Hussein, não estaria delirando no mesma linha ? Não é sem sentido que os EUA, tem sido o solo fértil de seitas cristãs fanáticas. Uma delas, A Casa dos Filhos de Jeová, torce para o mundo se acabar logo, porque seus membros acreditam que depois surgirá uma nova civilização do Bem.


Fanáticos e suicidas carecem de humor


O fanatismo parece ser uma doença contagiosa, pois tem o poder de atrair adeptos geralmente em crise profunda de vida pessoal. Fanáticos e suicidas tem em comum a falta de humor e o desapego pela própria vida. A certeza cega tira-lhes o humor e os colocam no caminho do sacrifício místico.


O escritor e pacifista israelense, Amós Oz, numa carta ao escritor japonês Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de 1994, escreve ter encontrado a "cura para o fanatismo": o bom humor. Diz que: "nunca vi um fanático bem-humorado, nem alguém bem-humorado se tornar fanático". Oz imagina uma forma mágica de prevenir o fanatismo: um novo tipo de messias que "chegará rindo e contando piadas".


Emil Cioran, um filósofo amargo e pessimista, vê nas atitudes dos céticos, dos preguiçosos e dos estetas, os únicos que verdadeiramente estão a salvo do fanatismo. Já os religiosos estreitos, os políticos sectários, os dogmáticos que habitam em todas as áreas do conhecimento, tendem ao fanatismo com seus instrumentos próprios. O fanático jamais se pensa ser fanático [26].

Enfim, é preciso estarmos atentos e preparados para resistir os apelos do fanatismo que como erva daninha não escolhe lugar para germinar e se alastrar. Os grupos fanáticos exercem um atrativo para os indivíduos que possuem uma estrutura psíquica vulnerável, os desesperados, os desgarrados, os avessos ao espírito crítico ou predispostos à crendice, ao desejo de encontrar uma certeza e a se "contentar-se com pouco" na terra, porque ele tem certeza de que ganhará na suposta vida após a morte. Tanto o fanatismo como a guerra estão entre as situações que se encontram na contramão da sabedoria.


Para prevenção do fanatismo

Freud, como pensador evolucionista, pensava que só quando a civilização ascendesse à maturidade psíquica é que descartaria os mecanismos infantis ou alienantes cuja matriz é a religião. Segundo o fundador da psicanálise, a religião infantiliza as pessoas e as arrasta ao delírio de massa. O homem não poderia viver nesse estado de infantilismo para sempre, daí a urgente necessidade de um projeto de uma "educação para a realidade" [27], que fortaleceria a vida intelectual, facilitando o acesso de todos ao conhecimento científico, por ser este verdadeiro. Ademais, a religião não fez e nem faz as pessoas felizes, mas, dá-lhes uma ilusão de felicidade; sem dúvida, ela tem o poder de controla os impulsos primitivos psicossexuais e proporciona alguma direção moral, que costuma ir além do necessário, ou seja, reprimindo o potencial criativo ou de prazer genuíno das pessoas.

Amós Oz [28], o escritor pacifista, sugere a criação de escolas em todo o mundo da disciplina "fanatismo comparado". Tal disciplina não apenas serviria para entender os fanatismos: religioso, nacionalista, racial, político, desportivo, mas também outros que passam desapercebidos, como o "antitabagista" que poderia queimar os que fumam, o "vegetariano" que comeria vivo quem come carne, "o ecologista" que prefere salvar as baleias às pessoas famintas, etc. Uma disciplina como essa, teria uma função mais que educativa, teria uma preocupação preventiva quanto a possibilidade de "contágio" social do fanatismo, já que pode-se pegá-lo ao tentar curar alguém desse mal. "Conheço o perigo de se tornar um fanático antifanatismo", alerta o escritor.


Concluindo, resumimos que, previne-se o fanatismo com uma educação de boa qualidade, que saiba promover a cultura geral - mais do que a fé - e o sentido de grupo, de criatividade e humor.
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* Psicanalista, docente na UEM e doutorando na Universidade de São Paulo

[1]Geralmente os fanáticos que se tornam assassinos o fazem "em nome de Deus", ou em nome de um Outro qualquer. Ele é apenas um comandado. Já os assassinatos múltiplos disparados por um franco atirador anônimo, nos EUA, parecem não ser movidos por um Outro, ou "Grande ser", isto porque o assassino se diz que é o próprio "Deus".
[2]Basta ir a um templo evangélico ou, nas madrugadas, assistir pela televisão um show de exorcismo
[3]Nesse sentido, o Prof. Hilton Japiassu, costuma citar F. Jacob, que diz: "Não é somente o interesse que leva os homens a se matarem. Também é o dogmatismo. Nada é tão perigoso quanto a certeza de ter razão. Nada causa tanta destruição quanto a obsessão de uma verdade considerada como absoluta. Todos os crimes da História são consequência de algum fanatismo. Todos os massacres foram realizados por virtude: em nome da religião verdadeira, do racionalismo legítimo, da política idônea, da ideologia justa; em suma, em nome do combater contra a verdade do outro, do combate contra Satã" . Cf.: Crise da razão no ocidente. In: Japiassu, H. Desistir de penar? Nem pensar, 2001.
Tb.http://www.editoraeletronica.net/autor/069/06900100_1.htm#topo

[4]Zusman, W. 2001.
[5]Para uma melhor compreensão dessa distinção, ver Juranville, A. Lacan e a filosofia. Rio: Jorge Zahar, 1987, principalmente a segunda parte.
[6]Ossama Bin Laden é um bom exemplo de um fanático tecnológico que faz comunicados, monólogos, declarações ou discursos, jamais se oferece para um diálogo franco e aberto para confrontar com outros pontos de vista.
[7]"O terrorismo é uma das expressões do fanatismo fundamentalista".
[8]Cf.: Chemama, R.1995, p. 79-81.
[9]Cf: conforme análise de Becker, S., 1999.
[10]Essa é a tese de S. Becker, 1999.
[11]Originariamente o holocausto [gr. Holókauston] era o "sacrifício em que a vítima era queimada inteira". Entre os hebreus, o holocausto era também o sacrifício em que se queimavam inteiramente as vítimas, tendo assim um sentido de imolação ou expiação. No período nazista, entre 1935 e 1945, os judeus se viram diante de um novo holocausto, sendo obrigados a perda da cidadania, a trabalhos forçados, a serem fuzilados em massa, serem transportados pela força para os campos de concentração onde terminavam sendo exterminados coletivamente em câmaras de gás. Durante esse holocausto, cerca de 6 milhões de judeus pereceram.
[12]Cf.: Manvell, R, e Fraenkel, H. 1962, p. 262. Conferir pelo menos todo o capítulo final "Nuremberg".
[13]Dito por Hitler, em Mein Kampf. Apud Becker, S. 1999, p. 157.
[14]Dito por Ossama Bin Laden, por ocasião do ataque aos EUA.
[15]"É o saber instituído no discurso universitário, quando o S1 vem no lugar da verdade. Com a extinção desse lugar ético, acontece a forclusão do Nome-do-Pai e a formação da holófrase parafrênica". (Becker, S., 1999, p. 158).
[16]Cf.: S. Freud. [1911] Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides), v. XII, p. 15 -105.
[17]Raciocínio parecido fez o ensaista, poeta e dramaturgo alemão, Hans Magnus Enzensberger, onde escreve: "Não importa saber de qual alucinação se trata. Qualquer instância superior serve - uma missão divina, uma pátria sagrada, a uma revolução qualquer. Em caso de emergência, no entanto, o suicida assassino [refere-se aos kamisazes de 11 de setembro, entre outros atos suicídas]pode se arranjar até com uma justificativa qualquer de segunda mão. Seu triunfo consiste no fato de que não poderá ser atacado nem punido; disso ele mesmo se encarrega. E também o mandante à distância aguarda em seu "bunker " o momento da própria extinção; deleita-se - como Elias Canetti já há meio século formulava - só com a idéia de que antes dele possivelmente todos os outros, inclusive seus correligionários, serão mortos" (grifo meu). Enzensberger, H. M. Paranóia da autodestruição. Folha de S. Paulo - Mais, 11/11/2001.
[18]Cf.: Chemama, R. 1995, p. 161-2.
[19]Cf.: R. Alves. 2001, p. 105-10.
[20]Trata-se de uma conceito de R. Barthes, trabalhado por L. Mrech 1999) . As "estruturas de alienação do saber" são formas estereotipadas de saber, mas que perderam o contato real com a realidade entre os sujeitos. É uma estrutura programada para filtrar o que o sujeito deve escutar, o que dizer e o que fazer em um determinado momento. Não incorpora nada novo, apenas repete.
[21]Observamos que o narcisismo visa um resultado de gozo místico que implica, sobretudo, "amar a si mesmo", tal como o Mito de Narciso, que morre diante de sua imagem refletida na água, ignorante que era sua própria imagem. O êxtase do místico, que faz um ato de terror, ou de suicídio ou, ainda, de ambos, é a intenção de "ultrapassagem do limiar do gozo-Outro" (Nasio, 1993) ; de um gozar que implicam o corpo e o psíquico, na crença suposta de uma vida após a morte.
[22]Cf.: Nebulosa fascista. FSP, 1995.
[23]O fascista não é necessariamente nazista. Esclarece Eco que enquanto o nazista é obcecado pela raça pura, o fascista é pelo comando total das pessoas, que perdem suas liberdades.
[24]Estamos nos baseando nas teses de U. Eco, escritas no artigo ensaio "Nebulosa fascista", que aproveitamos em nosso artigo "Tolerância zero ao profofascismo", publicado na revista virtual www.espacoacademico.com.br , ano 1, n. 4, set. 2001.
[25]O tamanho do cinismo de Hitler está na frase: "pela graça de Deus, eu sempre evitei oprimir meus inimigos" (apud Chalita, M., s.d., p. 186). Tem sido frequente, ditadores se verem os eleitos de Deus para cumprir uma missão na terra. Idi Amim Dada, o ditador-açougueiro de Uganda, certa vez declarou: "Eu só atuo conforme as instruções de Deus". (apud Chalita, M., s. d., p. 186).
[26]Segundo pesquisa de P. Demo (20000) 3/4 dos crentes da Igreja Universal do Reino de Deus negam com veemência que a religião fosse uma forma de fuga. Também é frenética a exacerbação do nome de Jesus, que é visto como única solução de todos os problemas.
[27]Freud, S. Futuro de uma ilusão, p. 64.
[28]
A. Óz. Folha de S. Paulo - Cad. Mais!

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RAYMUNDO DE LIMA